DOCENTE-CADENTE

Tenho imensa pena do meu colega suicidário. Por vezes, para todos, as dores profissionais docentes são enormes porque são dores de parto. Não é à toa que o meu lema profissional tem sido e sempre será: «Educar é fácil porque educar é amar. Amar é que é difícil.» Enormes são também as horas de gratificação e sublime, numa sala de aula bem dominada. Provavelmente, nele, no colega-cadente, fez toda a diferença a sua desconfiança em relação ao suporte e apoio que o corpo docente de que fazia parte lhe proporcionaria. Não confiaria, porventura, do que dali viesse. Clima cortante. Tricas. Murmurações. Rivalidades frívolas. Bizantinices cretinas. Isolava-se, portanto, e tão estanque o fazia que não dividiu as suas angústias com ninguém, sossegando. Não partilhou o seu calvário com ninguém, aliviando o fardo. A bem ou a mal, alguém poderia esculpir naquela turma-tormento a justa faceta amável e humana, digna de respeito, de tal infeliz docente-cadente. Fugaz estrela. Fugaz vida. Doente. Os selváticos e insolentes meninos para com ele poderiam recuar, se apertados por uma malha cúmplice e actuante. A Escola outra coisa não é que espaço privilegiado para dádiva de si, do melhor de si, apesar das distorções urdidas por um Estado que abriu a Caixa de Pandora do estigma sobre o professor, a Porta ao Insulto ao professor, a Janela ao Desprezo do professor, enfraquecendo tudo o mais A Escola outra coisa não é que comunidade de vida, de afectos, de conflitos e sorriso. Cresce-se ali. Salvam-se corações e destinos ali. Urge interagir. Fazer parte. Ser para os outros. Nada mais redentor que afectos, que relativizar-se a si mesmo e ser UM com os demais. Florir. Nada se perde do que se investe em tal Âncora de Vida, a Escola! O que se ganha é incomensurável.

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