PEC, OU A VÃ GLÓRIA DE MENTIR

Ontem, ao cruzar-me com o Maestro António Vitorino de Almeida e a sua bengala castanho-claro, numa das carruagens do Intercidades das 17:39, Oriente, pensei na filha, Inês de Medeiros. Aveiro ou Ovar, aproximava-se já o fim da minha viagem. Preparava-me para a saída. Vislumbrei-o imediatamente, ao fundo de uma das carruagens, em trânsito para o Bar ou para as Latrinas. Ei-lo tímido e cabisbaixo, como muitas divinas figuras públicas, humildes, no seu recato à prova de invasivos sorridentes. Barriga com barriga, cabeça com cabeça, en passant, murmurei: «Maestro!». «Boa tarde!», rosnou-respondeu. Foi então que, além de ter pensado em Inês, tive compaixão dele, o pai. Como Cruela, com os Dálmatas, ou a Bruxa Má, com a Branca de Neve, ou a Madrasta, com a Gata Borralheira, ou a Bruxa Velha da Casa de Chocolate no meio da Floresta, com Hansel und Gretel, José Sócrates possuía a sua filha-troféu. Até ela, actriz, em serviço do seu detentor-actor, defendia a vã glória de mentir. Compadeci-me, por isso mesmo, redobradamente, do pai. Mentir no negócio-controlo da TVI não escandaliza. O PEC, afinal, aumenta impostos, no PEC, o investimento público afinal é mau, com o PEC, o TGV, afinal, pode ser revisto e os salários, afinal, podem congelar assim como as reformas. Tudo isto ao mesmo tempo que se diz aos portugueses que os impostos não subirão. As hordas de subsidiados e a Classe Média, cada vez mais mínima, podem continuar a votar no partido certo. E é assim que Inês de Medeiros, a actriz, se interpõe, numa espécie de Síndrome de Estocolmo, em favor do seu captor moral: considera que, se Sócrates mente, isso não é grave. Com efeito, se eu fosse pai disto teria um certo orgulho envergonhado.

Comments

Anonymous said…
"Bota" inspiração nisto...! Mas olha, tinhas ganho mais se em vez de continuares tivesses ficado por AVEIRO PARA PAGARES UM COPO! Ainda gostava de saber como é que alguem como a Inês de Medeiros pode ser deputada da nação...não pondo em causa o seu valor intelectual, sinto-me a viver numa republica das bananas.
Filha de peixe sabe nadar. O pai disse na rádio que mal tem dinheiro para comer... a mentira já está institucionalizada com o Zé Latão ao volante.
joshua said…
Fica combinado para uma próxima, meu caro Rui. Quanto à Inês, para desfazeres todas as dúvidas, vê a entrevista na Sábado. É de estarrecer o tom, o estilo, a "presuntividade" presunçosa das bacoradas. Abraço.

Caro João, é isso e mais nada. Sabem todos muito. Abraço.
radical livre said…
no meu tempo de Coimbra havia uma paródia à Castro de António Ferreira

d.Pedro:"-Inês! Inês!, quem te matou?"
Inês no caixão: "-foi o Pacheco"
Anonymous said…
Já agora dizem-me almas bem informadas em Aveiro que por altura do regresso dos mancebos da pesca do Bacalhau os tribunais enchem. Só nessa altura recebem notificações.

Esposas dos mesmos degladiam-se em frente a magistrados usando linguagem codificada:
- Sua comilona, sua porca .. tu és uma comilona!

- Mas Sras acalmem-se. Por favor digam-me agora o que querem dizer com comilona.

- O Sra Juíza. É ela que anda a "comer" o meu marido e a poupar o dela.

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