ISABELA, PARA TI TUDO É GÁS!
Isabela, o teu questionamento dos mecanismos a montante e a jusante do BA foi divertido
e as réplicas e tréplicas igualmente divertidas: mas cumpre-me defender os vadios,
os encostados, os aproveitadores do Sistema:
eu, se não não trabalhasse, borraria a minha cara de merda. Trabalho.
É uma sorte. Mas também tenho vontade de borrá-la por causa do que se paga em Portugal, Isabela, e do quanto se oprime e abusa na linha de montagem, puta que os pariu, esses patrõezolas que, quando a casa treme e não vende, apelam ao espírito de equipa, à união e capacidade de sofrimento, mas quando a casa rende, foda-se!, só pagam o combinadinho
e nada de prémios de produtividade ou de constância, lealdade, espírito de sacrifício. Puta que os pariu, cambada de cabrões avaros!
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E tu sabes que eu, tendo passado pelo Sistema Público de Ensino,
E tu sabes que eu, tendo passado pelo Sistema Público de Ensino,
também vi muita merda na mó de cima e muito mérito na mó de baixo.
Quando, ao fim de doze anos consecutivos,
fiquei desempregado numa base de ano sim, ano não,
e vi baldados sistematicamente os meus esforços por humanizar
o zoológico perdagógico em que transformaram a Escola,
sendo os professores somente entretainers e mestre da nulidade,
e me vi, uma vez mais, a palavra consola!, na merda, compreendi tudo.
lkj
O trabalho é uma palavra redonda na boca de toda a gente como a pasta medicinal Couto:
O trabalho é uma palavra redonda na boca de toda a gente como a pasta medicinal Couto:
eu, por objecção de consciência, por birra, por protesto, por sentimento de injustiça crassa,
FIZ-ME VADIO, ABRACEI A PREGUIÇA E ENCOSTEI-ME, ENQUANTO POSSO,
À FALHENTA E MISERENTA SEGURANÇA SOCIAL NACIONAL.
lkj
Peso e pesarei, enquanto puder, ao caralho do Estado, Isabela,
Peso e pesarei, enquanto puder, ao caralho do Estado, Isabela,
porque o Estado e quem de momento o rege,
nos tem mentido descaradamente e nos tem pedofilizado as vergonhas:
é só fazer as contas. É o Estado e quem o representa quem nos tem desmoralizado,
onerado desapiedadamente, seguindo uma linha de conduta e de política
de contornos negativos e depressores.
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É o Estado, mau exemplo em tudo!, que, com estas políticas de nos carregar nos calos,
nos tem desmobilizado de nós mesmos, de sonhar, de viver,
de trabalhar com prazer e confiança,
soltando os cães Fisco e Bancário contra tudo o que mexe e contra todos,
sobretudo os menos robustos.
lkj
O Povo, o Povo que tu conheces, tem como chefes MENTIROSOS.
O Povo, o Povo que tu conheces, tem como chefes MENTIROSOS.
E esses mentirosos têm levado ao colo os verdadeiros parasitas,
o verdadeiro lastro que nos conserva em seco,
muito longe de navegar ao largo, como a Grécia já navega,
é que na Grécia as políticas têm sido mais patrióticas
e o bem-estar geral lá tem sido mais meta
contra o que cá as mentiras sornas nos têm vendido e se pratica.
lkj
Por isso não brinco ao trabalho, Isabela,
Por isso não brinco ao trabalho, Isabela,
não vou participar no jogo do trabalho. Os que pregam o trabalho
e a produtividade só nos fodem e riem do nosso suor.
Os que, moralóides, moralizam o discurso e a praxis dos vadios
e falam dos ciganos e dos vadios, dos preguiçosos,
como poderiam falar dos que já tiveram orgasmos e nós não,
os filhos da puta, tenham lá paciência!
lkj
Quem está na miséria, cá em baixo,
Quem está na miséria, cá em baixo,
devolve com ironia os comportamento sornas de quem, Nos Quadros do Sector Público,
anda a forrar-se de benesses, sinecuras, grandes mamadas,
grandes comparticipações, grandes vencimentos, obscenas condições,
desproporcionais regalias! Tenham lá paciência!
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Portanto, Isabela, queres denunciar os pançudos,
Portanto, Isabela, queres denunciar os pançudos,
começa por cima, e logo tu, que és parte da inteligentsia nacional,
da grande imprensa nacional, e a quem a ficção da fábrica de parafusos
assenta tão primorosamente como os meus preservativos XL no meu dedo mínimo,
tem paciência, deixa-nos a nós, vadios, preguiçosos, nesta justificadíssima greve de zelo,
greve de fé, greve de empenho. Há verdadeiramente males bem maiores, bem mais graves.
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Portugal, tal como é gerido por esta quadrilha de chulos,
não pode precisar da minha fé, do meu empenho, da minha entrega.
Ficaram lá, no passado, quando nos não fodiam a vida e o poder aquisitivo.
Estão, porventura, no futuro, caso esta choldra se decida a regenerar-se,
a falar a linguagem da verdade e da limpidez,
para que, finalmente, não nos deitemos todas noites com dores no cu-da-consciência
de tão fodidos por toda gente, a frio, sem cuspo e a rir.
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