ÂNCORA É MÁ METÁFORA


Enquanto em Portugal a livre concorrência é um mito,
que nas suas reactualizações rituais, em vez de desonerar,
vai onerando duplicadamente os cidadãos,
na sua larga maioria pessimamente remunerados ou sem quaisquer rendimentos.
Enquanto em Portugal a EDP, TVCabo, o BES e todos os seus irmãos Bancos Nacionais,
a Galp, enfim, todas as companhias hegemónicas fazem o que querem das pessoas,
tratam-nas como vítimas irrisórias cujos protestos, quando lesadas,
cujas decisões desvinculativas, quando livremente tomadas,
se ignoram olimpicamente, protelando sorna e habilmente
a satisfação de quaisquer queixas.
Enquanto a tecnologia
ao mesmo tempo que nos salva e nos permite comunicar mais e melhor,
nos aprisiona e nos tortura
(pensem no controlo apertado sobre o cidadão pelo cruzamento abusivo de dados
e na perfeição a que tal controlo já chegou, roçando a obscenidade devassadora
e bigbrotheriana e pensem que nada nem ninguém escapa a tal controlo
nem quando joga no Euromilhões, essa farsa internacional),
a União Europeia para nós por vezes tem sido,
não uma âncora, mas um lastro.
lkj
A ideia é boa. Outros continentes e países olham com interesse o fenómeno.
Mas as boas repercussões no País é que só têm sido sentidas por poucos
e ficam sempre aquém do aproveitamento desejável e possível,
deixando-nos cada vez e inexplicavelmente mais últimos.
lkj
Por isso deflagra em nós um cansaço absoluto ao voltar a ouvir ou a ler
palavras e expressões já gastas, mortas, ilusórias, como 'preparar', 'tirar partido',
'adaptando-se', 'garantir influência', 'defender eficazmente os interesses nacionais',
ainda por cima em relação a um Tratado, fruto apressado de um processo
que escapa aos cidadãos por ser obra vertical de uns sábios euroburocratas
de que as estuturas comunitárias são o Albergue Excelente:
«No que respeita a Portugal, alertou para os desafio e oportunidades
que o Tratado coloca e disse que o país se deve preparar
para "tirar o melhor partido do mesmo,
adaptando-se a uma nova arquitectura institucional de forma eficiente,
para garantir influência efectiva no processo de decisão comunitária
e se defender eficazmente os interesses" nacionais.
"A União europeia é uma âncora estratégica decisiva
para garantir um futuro melhor para os portugueses"»
lkj
A União Europeia, enquanto 'âncora estratégica',
deveria estar recolhida para podermos navegar com liberdade, fumar com liberdade,
comer com liberdade certos petiscos minoritários que a ASAE persegue.
E enquanto lastro, o lastro em que em Portugal a convertem,
nem sequer deveria existir: não nos equilíbra na navegação.
Pelo uso Aquém dos recursos e dos meios que nos são atribuídos,
retém-nos e paralisa-nos. O mal é nosso e é antigo:
é o mesmo mal que nos fez transportar Caril, Pimenta e Canela,
enriquecer tremendamente com isso,
mas depois ter de comprar tudo o mais ao Estrangeiro,
desde roupa a apetrechos de cozinha.
lkj
Porque acima da União Europeia, estão as MegaCompanhias e os Mega-Interesses,
acima dela e para além dela estão os Empórios Económicos, está mesmo a ganância
de alguns banqueiros norte-americanos que nos colocaram nesta Crise Insondável,
está a GazProm russa e a sua capacidade de chantagear,
estão os Poderes Tácitos que tudo determinam à escala das nações.
lkj
Não estamos longe de ver um dia formalizado,
em países frágeis e flexíveis às penetração da economia global, como o nosso,
que o Governo Português «tem o patrocínio da Coca-Cola»
ou que o Ministério da Educação «tem o patrocínio da Iberdrola»,
que o Ministério das Finanças «tem o patrocínio da Nestlé»,
que o Ministério da Trabalho «tem o patrocínio da catalã Danone
ou da Nike ou da Nokia ou... ou... ou... do Pai Natal».
lkj
Não nos venham vender independência e interesse estratégico.
Onde estiver o Capital, estará, bajulador e servil,
um qualquer Político Português em funções executivas.
Porque estes são Tempos de Arbítrio e Violência.

Comments

Joaninha said…
olha, escrevi lá no bog uma coisa parecida, mais especifica mas no mesmo tom, engracado...

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