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«Nunca tive jeito, nem gosto, nem interesse pela intriga. Pela a intriga política ou por qualquer outra. E sobretudo pela intriga política quando ela acaba entre a polícia e os tribunais. Que um primeiro-ministro deixe o Governo descer ao miserável espectáculo a que chegou é para mim condenação bastante. Também "escutar" o telefone do próximo, por muito necessário que seja, é uma ideia que me repugna. E publicar a seguir o que se ouviu, ou foi ouvido, não me parece admirável, mesmo para defesa da democracia ou da limpeza pública. Isto para explicar que, por preguiça e aversão, me perdi completamente na trapalhada em curso. Não sei quem disse o quê e a quem; de que maneira, com que fim e em que circunstâncias. Não percebo o que se tramou ou não tramou, ou se por acaso não se tramou nada. O que me espanta nesta história é o papel de Sócrates. Não consigo conceber que espécie de vaidade ou delírio levam um homem, responsável pela vida de milhões de portugueses, legitimado pelo voto e até há pouco tempo com uma arrasadora maioria no Parlamento, a fazer uma inimiga de Manuela Moura Guedes por causa do episódio Freeport, ou de José Manuel Fernandes, por causa de uma oposição que o incomodava ou não lhe convinha. Se, na verdade, se julgava caluniado, por que não esperou, em silêncio, pelos tribunais? Por que persistiu, e persiste, em se envolver pessoalmente numa polémica de que é parte activa e em que ninguém lhe concede a mais vaga presunção de imparcialidade ou de equilíbrio? Acha ele, de facto, que ganhou alguma coisa com as cenas de fúria e as berratas que ofereceu ao país? Consta que lhe chamam agora "mentiroso" na Assembleia da República, eufemística ou directamente. António Capucho sugeriu que o próprio PS o substituísse por uma criatura mais previsível e cordata. E até socialistas com alguma influência se afastam dele. Não há dúvida de que, no estado em que está (e de que não tem maneira de sair), Sócrates já não pode ser primeiro-ministro. E só continua porque o Presidente e a direita o aguentam, em nome de uma responsabilidade espúria e de uma discutível conveniência partidária. Entretanto, Portugal vai ao fundo e Sócrates, metido num bunker, anda em guerra com os seus fantasmas. Perdeu a confiança do cidadão comum e, naturalmente, arrastou o Governo com ele. É uma presença perigosa. Pior ainda: é uma presença nociva.» VPV

Comments

José Lopes said…
Depois do pântano que levou Guterres a desistir bão sei como apelidar a situação actual que fede, fede, fede...
Cumps

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