DESTE-LHE SALOMÉ

Deste-lhe Salomé
porque sabias ser a carne do velho
aquele estrugir de luxúria, 
labareda em lenha ressequida,
à flor de tanta virgindade,
e aquela, mais que todas, lhe apetecia.
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Dar-lhe-ias Salomé,
se ele estancasse a voz do Poeta Baptista,
faca de consciência
a aturdir de impudor 
recantos e átrios 
desde a bafienta masmorra.
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E Salomé dançou, sacudiu os seios,
lançou pela corte aquele aroma a vagina fresca, 
cavo almíscar incandescente 
que entontecia toda a gente em torno.
E ela contorcendo-se e espojando-se.
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Pelo entrepernas 
escorria-lhe um rio de sucos e suores
que rebrilhavam 
no esbrasear dos archotes e das faces. 
Com as ancas
flagelava corações viris 
remetidos ao cio mais súbito e mais atroz.
Com os cabelos entorpecia a disposição do mais casto
infernizando-lhe as vísceras 
já sôfregas por possuí-la.
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Por fim, o velho rei, que salivava, 
prometeu-lhe o que quisesse.
Tu, batida víbora, que lhe deras Salomé,
querias o Poeta degolado, silente,
numa bandeja de orgias.
E Salomé quis o que tu querias.