O CHIADO NUMA CAPITAL GRAFITADA


Não sei o que seja ser alfacinha de gema, sou portuense e tripeiro de gema.
Penso do Chiado, porém, o que ontem mesmo vi e ouvi a uma turista entrevistada
por uma das televisão, quando perguntada sobre o que pensa dele:
«Seems to me less decadent than the rest of the city».
Em qualquer reportagem, das milhares que recobrem temáticas sobre Lisboa,
o que ressalta à vista é o assombroso grau de vandalismo por todo o lado.
Dir-se-ia que a cidade está entregue à depredação impune,
ao desprezo activo dos seus cidadãos, que já não têm energias para resistir
às grafitações de todo o umbral, de toda a parede, de tudo afinal.
Esse desmazelo indirecto, consentido, faz-me pensar na decadência de Portugal,
o que contrasta com outras cidades portuguesas mais pequenas,
como Viana do Castelo,
e que primam pela limpeza e pela boa conservação do património,
pela limpeza e zelo pelas suas estruturas imobiliárias e monumentos de relevo.
Não pode ser apenas o Chiado a concentrar toda a beleza e todo o bem-estar
que os turistas observam em Lisboa. Era preciso ir mais longe.
Siza diz que não lho permitiram.
lkj
Se o Chiado é hoje uma das zonas mais lindas da capital,
renascido que foi das chamas, das cinzas e dos escombros,
passados vinte anos; se é concorridíssimo e é caríssimo viver lá,
se o dizem tão bonito como antigamente, apesar de o antigamente regra geral
ser um espaço utópico sempre perfeito para quem a ele se reporte por nele ter vivido;
se outros o consideram mais moderno e adequado aos tempos actuais,
penso, pelo que leio e vejo, ainda restar imaginação adicional
para activar uma maior animação de rua, animação cultural rejuvenescida,
apostando num Chiado vivo com teatro, música, formas criativas de interacção humana,
animação permanente vinte e quatro por vinte e quatro horas,
tal como acontece em Madrid ou em Barcelona, cidades que nunca dormem
e que também por isso mesmo são ricas, ousadas, com um carácter forte, como se sabe.
Por que motivo as cidades portuguesas, Lisboa e Porto, morrem completamente à noite?!
lkj
Os políticos pensam curto, por isso mesmo o Chiado cultural ao que parece
também morre todos os dias tal como morreu fisicamente
entre o que fumagava irremediável há vinte anos.
O fogo crematório de essa época tem de originar um fogo de revitalização humana
nesta zona histórica e central da capital.
Que tudo não se restrinja como acontece sempre em Portugal
ao negócio imobiliário. Pensem mais e vão mais longe.
Quem olha para o Chiado imagina que os autarcas não viajam por essa Europa,
não comparam o que melhor se faz por essa Europa
com o que não se ousa fazer por cá.
Medo. Má gestão. Encolhimento.

Comments

Anonymous said…
Morrem à noite como morre todo o país. Porque não há graveto para gastar, porque somos um povo tristonho e porque quem domina a noite são os marginais, que assaltam o cidadão pacato.
Anonymous said…
Burgesinha no Chiado,
no seu patio é costureira...

Defeitos y cualidades,
tudo tem esta Lisboa.

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