INSURGÊNCIA QUE ARDE SEM SE VER



1. Indiscutivelmente, a má consciência disfarça-se de consciência quando o ex-Presidente da República Mário Soares reitera temer que Portugal fique “ingovernável” em 2009 devido a eventuais protestos decorrentes de uma elevada taxa de desemprego no país, segundo afirmou à Rádio Renascença, que ouviu os três chefes de Estado que antecederam Cavaco Silva. Uma história de Portugual actualizada e não oficial certamente elencaria a acção de Soares como um começo de um processo aglutinador de forças no quadro do PS-Maçonaria-Portuguesa e menorizador de quaisquer outras tentativas, fora de esse Braço Articulado da Maçonaria, para uma verdadeira pluralidade democrática e uma força efectiva da sociedade civil capaz de absorver e minorar o tal impacto dos desempregos e das fomes que por aí virão. O aqui d'el-Rei de Soares soa por isso exactamente ao contrário. O aviso é para levar a sério, mas não o mensageiro.
lkj
2. Mais uma vez deveria soar a boa notícia que as Finanças tenham conseguido ultrapassar o objectivo de 1500 milhões de euros em cobranças coercivas durante o ano de 2008, segundo reza uma nota do director-geral de Impostos enviada aos colaboradores: "De acordo com dados que acabo de obter, o nosso objectivo anual de cobrança coerciva para 2008 – 1500 milhões de euros – encontra-se ultrapassado", como consta na mensagem de Ano Novo que José Azevedo Pereira enviou aos funcionários da Direcção Geral de Impostos, citada pela Lusa. Só que a verdade é que a fúria despesista irresponsável em que pretende mergulhar o sôfrego executivo de José Sócrates representa deitar tudo a perder e transformar esse vinho em água, isto é, ter levado ao extremo da exasperação e do empobrecimento famílias inteiras e cidadãos verdadeiramente esmagados e atirados ao pó. E para quê? Para nada! Logo por um Fisco em muitas matérias inconstitucional porque indevida e inclementemente retroactivo, porque injusto e sobretudo porque persecutório para com quem não pode, para com quem está desempregado e há muito tempo à margem do fragilizado tecido produtivo nacional. Deveria haver pudor aqui. À semelhança do que se vai passando noutros departamentos do Estado e no tom geral das políticas de este Executivo desalmado, políticas impessoalísticas e frias, a máquina fiscal do Estado comporta-se com a frieza pragmática que visa os objectivos mas sem olhar a meios e, no mau sentido, sem olhar a quem.
lkj
3. O improvisionismo e a desorganização pontuam a cultura das várias facções palestinianas, a mais radical das quais, o Hammas, mais interessado na publicidade sanguinária com que expõe e sacrifica os seus jovns, os seus civis e depois transforma os corpos despedaçados e sob escombros no santo fuel para a santa Jihad; mas também mais interessado em qualificações técnicas em explosivos e tácticas de guerrilha com os seus martírios sucessivamente pífios, que uma verdadeira formação de quadros e aproveitamento dos recursos humanos a bem dos territórios ainda sob a periclitante soberania formal palestiniana. Por isso mesmo parece inglório que o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, apele hoje, meses e meses de Al Kassam e convicto rompimento de tréguas depois, à reconciliação das facções rivais palestinianas. Considera iludidamente tal junção conjuntural de esforços uma resposta à ofensiva israelita contra a Faixa de Gaza, território que o Hammas controla à revelia da Fatah, movimento que domina a Autoridade Palestiniana: “Pedimos aos irmãos palestinianos que façam imediatamente uma reunião de reconciliação”, afirmou Moussa, no início de um encontro dos chefes da diplomacia da Liga Árabe, para debater as consequências dos raides aéreos israelitas ou, visto de outro ângulo, as consequências do flagelo dos Al Qassam. Porém, caso se reconciliassem como poderia admitir depois o Hammas a divisão dos louros, dos martírios e dos méritos, se só o Hammas empreende hostilizar activamente Israel? Definitivamente, não. Não é à toa que Israel ataca um dos pólos de um reino profundamente dividido e cada vez mais inviável. É mesmo para poder reinar e tirar máximo partido de tais divisões. De resto, o mundo árabe não é o mundo islâmico e aqui os ódios são naturalmente mortíferos entre facções religiosas, culturais e étnicas.
lkj
4. Atlético e pressuroso, o CDS-PP anuncia ir pedir explicações ao Governo no Parlamento sobre as medidas excepcionais para acelerar investimentos públicos prioritários, incluindo prazos de pagamento, garantias de transparência e igualdade para as empresas. Mas o cansativo é a sensação de que esta vigilância e linha da frente na confrontação ao Executivo não passe de coreografia de curto-prazo. A Maioria Paquidérmica, com os trejeitos anti-democráticos e autistas que a caracterizam, dará o chuto habitual a este pequeno roedor e a obscuridade das medidas governamentais seguirá impune. Convém ter em conta que o Conselho de Ministros decidiu ontem que, nos próximos dois anos, as obras públicas cujo valor não exceda os 5,15 milhões de euros podem ser atribuídas a uma empresa ou consórcio de empresas por ajuste directo, o que, num país menos alienado e com um grau de activismo cívico poderia dar origem a uma contestação grega e até mesmo ao pedido de dissolução da Assembleia da República, passe a hipérbole que nem é hipérbole nenhuma. O problema é que o divórcio entre a Política e os cidadãos começa quando uma longa lista de ABUSOS um a um e sucessivamente nos passa debaixo dos narizes sem que a sociedade, em grupos e sectores, não franza organizadamente uma sobrancelha ou desencadeie uma reacção visível e de levar a sério, como a dos Camionistas durante a crise dos combustíveis em Junho. Os partidos não nos representam. Representam-se.
klj
5. Num momento em que o Hammas já se ajoelhou talvez por ter obtido os seus objectivos automutilatórios e sobretudo precisar de reorganizar-se, o Governo israelita, que também tem tem direito a ter objectivos militares e anímicos, acaba de rejeitar as propostas internacionais para uma trégua permanente com o Hammas, optando por continuar a ofensiva até que “todos os objectivos” da operação sejam cumpridos. Em vão o Hammas anuncia, entretanto, estar disponível para suspender o disparo de rockets contra Israel se for levantado o bloqueio à Faixa de Gaza. Somos obrigados a colocar em paralelo as abundantes acções islâmico-terroristas que têm pontuado o mundo médio-oriental e asiático e que se caracterizam por serem impiedosas, suicidárias, pontuais, mediáticas, letais, moralmente intimidatórias, elegendo alvos ocidentais e preferencialmente judeus. Israel tem sido um tampão ao ódio islâmico que se desunha por avançar e desencadear-se sobre o Ocidente a fim de revertê-lo de novo num califado, terra exclusiva do Islão.
lkj
6. O ano que finda mostrou uma agitação particular em termos políticos e a emergência de uma consciência nova e de uma nova forma de vigiar e controlar os poderes abusivamente exercidos pelos políticos vigentes: não proveniente da Imprensa, mas da Bloga, o grande fantasma do Governo Português, bem como as sinergias pessoais intrincadas por ela geradas. Veja-se o caso dos professores, uma classe compressa por medidas estupidificantes, mas que de repente reage, une-se e reorganiza-se não graças à acção-Cassete dos Sindicatos, mas graças aos movimentos, aos e-mails e aos Blogues. Devido ao recrudescimento da ainda insondável mas já terrível crise, 2009 será o ano de definições, mas também de um acréscimo de tensões e de um endurecimento quase certo da Opinião Pública: um Governo a braços com a crise, três eleições, possíveis convergências à esquerda, e o rumo das lideranças à direita marcarão parte da agenda política. Num ano em que o próprio Governo acredita que será o aquele em que se viverá o pior da crise, os portugueses poderão ser chamados às ruas, às avenidas e às movimentações para-partidárias bem antes de efectivamente serem chamados por três vezes às urnas, para as eleições europeias, autárquicas e legislativas.

Comments

Joshua

Por mim estou pronto para a batalha. Despido de interesses, com uma única consciência! É tempo de enterrarmos cobardias, é tempo de valentia e ética, é tempo de abater oligopólios de interesses, saques insurgentes que nos matam um pouco todos os dias!
A história e o caixote de lixo da história estão à nossa mão. É tempo de civilizadamente e com coragem levantarmo-nos e levantarmos civilizada e pacificamente uma nação e dizermos em voz alta: quem se mete e saqueia o povo Português, leva!
Juliana Santos said…
Boa tarde,

Depois de ter lido o seu ponto 3, gostaria de lhe dirigir as seguintes palavras:
- a Palestina (formada pela Cisjordânia e Faixa de Gaza) não se trata de um reino mas de um regime democrático, com constituição à vista, à espera do reconhecimento das suas fronteiras. Nunca se tratou de um reino. Que eu saiba o Abbas não é rei e está perto o fim do seu mandato.
- Quanto ao Hamas, este escreve-se com apenas um "m" e trata-se de um movimento social e de um partido político, para todos os efeitos. O Fatah (o movimento para a libertação da palestina) não sendo o movimento que domina a autoridade palestiniana, é o partido político cujo representante é o presidente da Palestina, ou seja, líder da Autoridade Palestiniana.

Agradeço-lhe o tempo dispensado a esta estudiosa do conflito israelo-palestiniano.
Gostaria ainda de lhe perguntar como é que expõe o que escreve no seu blogue no JN. Queira responder-me, usando o meu email: julianasantus@yahoo.com.br.

Obrigada pela atenção,
Unknown said…
Bom 2009!!!
Abraço,
José Carreira
Anonymous said…
Bom:
O HAMAS não usurpou nada à Fatah.
A Fatah foi derrotada nas urnas. Eleições internacionalmente validadas. A Fatah, desde Arafat é um gangue corrupto. Até o cimento para o muro vendeu a Israel. Foi corrida de Gaza precisamente por isso e onde a própria comunidade cristã aplaudiu o HAMAS para, finalmente, ter, cito de cor, " segurança e esses bandidos fora daqui ".
Depois: não confusionemos. O HAMAS como o Hezzbollah, ( este, xiita ), são movimentos de resistância especificamente locais, geográficos, e que nada têm a ver com o extremismo terrorista sunita, de raiz wahabita, organizado e financiado pelos " nossos amigos " de Riad e que espalham a barbárie mundo fora. ( O HAMAS faz uma guerra a Israel, ocupante, e mais nada. O Hezzbollah nunca saíu do Líbano. Também aqui o único inimigo é Israel ). Inclusivé matando os xiitas que puderem, casos do Iraque e Paquistão. Não por acaso os ataques bombistas e frequentes da Al-Qaeda no Irão NUNCA são notícia. Como não é acaso o mundo sunita se estar a borrifar para Gaza. Ou ter sido desde o início o governo iraniano o ÚNICO a combater o regime tallibã, ainda este era " amigo " dos USA.
Pena não se ter acesso à especialista no Médio Oriente.

Por mim pouco sei. Conheço Gaza, estive lá, com muita antecedência previ a vitória nas urnas do HAMAS, ( o que provocou o riso de outra " especialista ", a islamóloga MSLopes do Público ), e estudei o Islão, xiita, em Qom. Pois é.


Abraço e bom 2009. O que não deve acontecer.

www.bandeiranegra1.wordpress.com
Anonymous said…
Embora prefira a Escola de Najaf e me interesse essencialmente o Sufismo.


www.bandeiranegra1.wordpress.com
Anonymous said…
israel
Quando viajamos todos juntos, somos muitos, pelo menos um quarto duplo e outro, triplo. Por isso, procuro sempre hotéis baratos, minimamente decentes mas suportados pelo orçamento, que arranjo pela net em sites de confiança. Quando vou a Londres, a coisa é dramática, porque a oferta hoteleira, em especial nas épocas altas - como é a do Natal - é má e estupidamente cara. Desta vez, escolhi um hotel em Bayswater, numa zona suficientemente próxima de Hide Park e de Marble Arch, que sabia ser residencial, a ver se conseguíamos dormir qualquer coisa sem sirenes nem ambulâncias a noite toda. Para castigo, eu que sou, no geral, anti-muçulmana ( tenho um péssimo feitio, não aprecio religiões que tratam as mulheres abaixo de cão), calhou-me um hotel gerido por muçulmanos. É que, não sei se estão a ver: o pequeno almoço era nojento, sem bacon, salsichas ou derivados, só com uma espécie de queijo e de pão e, na gaveta da mesa de cabeceira, se calhar para me embalar o soninho, um exemplar do Corão, em inglês. E eu li. A sério, todas as noites folheava aquilo e lia um e outro capítulo; atravessado, mas lia. Aquilo é mau. A “palavra do profeta” estende-se aos mais ínfimos aspectos das relações pessoais e sociais, e nada à deixado ao livre arbítrio ou à liberdade de escolha. O incitamento ao ódio por aqueles que professam diferentes religiões, são de outras raças ou que, pura e simplesmente, se regem por outras regras, é uma constante, bem como o é a ameaça de castigos terríveis que se abatem sobre quem prevaricar. Há capítulos inteiros que regem minuciosamente as relações entre os muçulmanos e, por exemplo, os judeus (os descrentes) ou os cristãos; e entre o homem e as suas mulheres. Aquilo é assustador, juro. E sempre a omnipresente ideia de vingança, de castigo, de dor, de pena, de ira. E não me venham com conversas de que aquilo é metafórico, como a Bíblia, que não deve ser entendido literalmente, mas adaptado aos dias de hoje. Uma ova. O que li era prático, pragmático e concreto, como por exemplo a parte dedicada à forma de o homem gerir os seus bens - entre os quais se contam as mulheres - ou de se relacionar com os outros homens. Às tantas, um dos capítulos intitula-se qualquer coisa como “Da salvaguarda dos direitos das mulheres”. Fiquei curiosa - será?! “Direitos da mulheres”?! Afinal, não me desiludiu: era apenas um conjunto de regras que dizia quando é que o homem se pode legitimamente “livrar” de uma das suas mulheres, ou seja, pô-la a correr - se, por exemplo, estivesse grávida, teria que esperar até que o filho nascesse, depois, andor. Resumindo e concluindo, detestei: detestei a filosofia subjacente, o apelo ao ódio e ao repúdio a tudo que é diferente, a abjecção do prazer, a minúcia regulamentar dos gestos e das acções. Deve dar, sem dúvida, umas belas de umas lavagens cerebrais lá nas madraças... Brrr. E, agora ,esta história do hamas, a par com as manifestações que se multiplicam pela Europa fora - manifestações de gente piedosa, culta e informada, que se senta descansada no Starbucks da esquina, a ler o seu jornal da manhã, sem qualquer receio de que um rocket lhe caia em cima enquanto engole o seu cafe latte. Gente boa e bem intencionada, mas que vive sem medo, que não sabe o que é o medo, que não repara quando um carro estaciona em frente ao restaurante onde está a jantar, que entra à vontade no autocarro sem atentar no vizinho, que nunca olha para o céu a ver o que de lá pode vir e que, por isso, menospreza o medo dos outros e a necessidade imperiosa que estes têm de fazer qualquer coisa. Escusado será dizer que estou, como sempre, com Israel. E não me venham falar nas criancinhas inocentes - crianças inocentes, vítimas, há-as de ambos os lados: mas só um desses lados, ao esconder os seus arsenais bélicos em casas de família, as usa como escudos humanos.

escrito na areia por Vieira do Mar
antonio ganhão said…
Mário Soares e os herdeiros únicos das benesses sem limites do 25 de Abril, devem temer o fim dos seus previlégios? Dos seus e tão generosamente estendido aos seus também...

Portugal renasceria, mas estes senhores teriam muito a perder, esta escassa e fechada elite!

Para a maioria dos prtugueses a crise é benéfica: taxas de juros baixas, gasolina baixa e inflacção baixa. O emprego, com crise ou sem ela, já anda pelas ruas da amargura!
Anonymous said…
Discutir o Islão é uma coisa, embora me pareça algo " estranho " esse Corão. Prefiro o meu em farsi.


Outra coisa é discutir a Palestina. Só. E a barbárie, pura e simplesmente, é barbárie. Mesmo a do Reich Sionista. Ou, então, como a Al-Qaeda são um bando de loucos, de animais, os fins justificam os meios, logo somos iguais e Abu Graib até faz sentido?
Para mim, não.

Apenas.


Spartakus.


www.bandeiranegra1.wordpress.com
Anonymous said…
Sorush é um Filósofo dissidente iraniano. Foi acessor e secretário pessoal de Khomeiny até à morte daquele. Como ele diz, ele, um dos mentores da revolução islâmica iraniana,

" Não há Fé, sem Liberdade ".



Lapidar.

Spartakus.
Anonymous said…
Abu Graib é uma instância de férias quando comparada com as tropelias que o Hammas faz na faixa de Gaza sobre os seus cidadãos.
Anonymous said…
Corrijo "instância" por "estância".

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