MAIORIAS, SINETES E INSÍGNIAS
Há um conjunto de vozes armadas em pára-choques das políticas governamentais
que olham para o rebanho português como muito sensível à agitação social
ao ponto de, com ela deflagrada no terreno, tender paradoxalmente
a um desusado sair de casa para premiar o poder que está
e não o que aspira a estar ou a dele participar.
lkj
A abstenção massiva e sistemática do eleitorado português
tem sido a antecâmara de uma insatisfação desiludida ainda mais massiva
à espera de vazar devidamente em alguma saída, pelo voto ou não,
mal lhe dêem o devido pretexto: por exemplo, um reforço do PCP
deixaria em respeito os que o têm perdido pelas pessoas:
lkj
Duvido de uma lógica de maiorias prudentes que preferem reeditar
governos servis aos privilegiados de sempre e penalizadores aos oprimidos de sempre!
E duvido quando cada vez mais se conclui que não nos trouxe nada de benéfico
um período de quase vinte anos com a tal 'estabilidade' reclamada, chavão de Cavaco,
e fraca ou nula agitação social: pelo contrário, trouxe-nos adormecimento cívico,
trouxe-nos escandalosa assimetria retributiva, desigualdade social galopante e maciça,
trouxe-nos directivismo iluminado e unilateral de maiorias obtusas e brutais,
trouxe-nos a manutenção de absurdos que passam discretos
como uma Sonae que, pelo mesmo serviço,
paga o ordenado mínimo de Espanha em Espanha
e o ordenado mínimo de Portugal em Portugal. Daí que me custe
dar razão à lógica cristalina do Eduardo, na posta abaixo citada,
vara-de-guiar-gado, com o sinete-insígnia implícito do costume:
lkj
«Cada nova greve, cada novo protesto maciço, é meio caminho para a maioria absoluta. Parece boutade...? Pois parece. Não está em causa a justeza de alguns protestos. Sucede que a maioria silenciosa, que não é um conceito abstracto, pois traduz um importante segmento da sociedade por norma refractário ao voto, essa maioria, se vir ameaçada a sua tranquilidade, sai mesmo de casa.»
çlk
Comments
Ainda estamos longe da plena participação cívica, e a ineficácia de alguma oposição também não ajuda, mas o que mais prejudica uma verdadeira escolha dos governantes é a partidocracia dominante, que esvazia e menoriza os movimentos cívicos.
Abraço do Zé