MINHA BISAVÓ VIÚVA MARIA NOGUEIRA


Minha bisavó, minha magna viúva e magna mãe,
Maria Nogueira da Rocha, quantos filhos pariste e zelos tiveste em Anta,
até transpores esta barreira de viventes entre o pó e a luz, para a Luz?!
Lembras todo um Portugal subterrâneo às revoluções anãs de medíocres,
tu, toda medular, resistente à sanguinária República, eras esse Portugal
que convergia, humílimo e puro, à Cova da Iria para aparecer à Aparição
quando as crianças iam ver aeroplanos para as praias de Espinho
a sonhar heroicidades nas trincheiras de França.
lkj
Oitenta e seis anos, entre um século e outro século, para ser esse teu filho Joaquim,
o mais novo de cinco, carpinteiro como o pai, a flor dos teus olhos, devoto teu
e contigo sempre nos lábios e no peito até à hora derradeira sua, última,
com noventa e três, por uma tarde de Março solar e meiga,
verdes olhos ante meus olhos verdes, o neto.
ljk
O Povo e as suas mulheres trágicas, negras, sofredoras, pesadas, arcaicas,
último sustentáculo vincular de uma Nação que se prolongava e propagava
pelo Mundo Todo, mas que hoje desaprendeu de Parir e começa a Acabar.

Comments

Daniel Santos said…
Um enorme escrito, onde dissestes tudo, muito bom MESMO.
Pata Negra said…
Paz à sua Grande Alma!
antonio ganhão said…
Um povo feito de mães...
Zisco said…
Tão distante da realidade deste mundo de cá, negativa imagem que transpõe um oceano.

Compreensível, porém inimaginável, a tristeza de quem lamenta uma morte anunciada através de gerações que se extinguem.
Joana Cabral said…
És um mestre...

beijos

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