FORA DE NÓS
Afurada, hora do lanche, rua cheia, duas mulheres muito tisnadas e enrugadas
(puxos triplos no cabelo, tailleur costureira Alice, botões de plástico,
meias grossas, saias curtas) trocam impressões sobre este mundo e o outro:
regresso da traineira KagoNisso ao cais, pesca, a ministra da educação
que deve «ser fufa, a grande puta, puta que a pariu» (coitada!),
a prisão do Pidá da Noite Branca, a Luisa do Pito
que apanhou o marido em flagrante na cabayada [sic] com duas vizinhas,
o Natal («fuoda-se [sic], está pela hora da morte, filhinha!»),
a pescada que é mais do Rabo e menos do Meio, etc.
Falam muito alto. Tanto, que várias cabeças, escarrando no empedrado, se voltavam
a cada nova investida. Às tantas, a mais nova (60 anos?) atira:
lkj
— O João não vai para a faina da sardinha nem para a da faneca, vai para o caralho.
— Para o caralho? Ver TV Cabo pelo dia afora?
— Não, mãe! Vai para o caralho que tem fora dele...
— Para o caralho que...
— Sim, mãe! Então não sabe que todos temos um caralho fora de nós!?
Comments
*
Gaya é uma naçon?