ABRACE UM DESEMPREGADO
Ele, de 34 anos, e a mulher por si assaltada, modalidade "esticão", de 49 anos. Por alguma razão — seria o rosto, a roupa, jeito, ar de despreparo inexpressivo do desempregado que perpetrou o assalto? —, já na 2.ª Esquadra da cidade, uma amiga da ofendida deixou-se comover com a situação económica do detido, quem sabe trocadas umas palavras coração a coração, olhos nos olhos. Por isso, abraçou-o, chorando. Desejou-lhe boa sorte. Deu-lhe 25 euros. O homem, residente na Pampilhosa da Serra, cometeu o crime de roubo pelo método de esticão, na Avenida de Fernão de Magalhães, na Baixa de Coimbra e certamente roubava de fresco. Quando o acanhamento da fome acaba, vem o desespero da fome e a fome de desesperar dando luta a roçar os limites. Toda a gente que puder, adopte e abrace um desempregado como aquela amiga da ofendida. Há quem adopte e abrace um Lince, um Panda, um Macaco Raro, por que não há-de abraçar e adoptar um desempregado?! Os poderes públicos, tem sido evidente, abraçam e beijam quem os pode abraçar e beijar em retorno com gestos de zelo e presentes de lisonjear. Nada de compaixão pelos negligenciados e perdidos das más políticas a montante. Empresários abraçam os donos da decisão política e choram por compadrio, comércio de favores. Qual compaixão pelos negligenciados e perdidos das más políticas a montante? Políticos choram aos pés dos empresários e abraçam-lhes posteriormente o compadrio favoritista, um lugar de gestão. Nada de compaixão pelos negligenciados e perdidos das más políticas a montante. Abraçar e beijar é o cerne do amiguismo da política como coutada. Ninguém se comove com quem recai na miséria, atirado ao pó por tudo e por todos. Quanto mais corrupção, menos emprego e certamente menos decência.
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permitem-me que viva para pagar impostos.
hoje pode ver 'bruxas bíblicas'