RUDE DÉNOUEMENT OLIGOCRATA
À medida que o tempo passa, compreende-se com mais propriedade o tipo de tango que o PM desejaria dançar com o parceiro que lhe deu o braço num dia negro para a República Oligocrata ao toque das trombetas apocalípticas do rating. Um que iluda os problemas estruturais gravíssimos do País e tenha, nesse mesmo parceiro de oportunidade, o PSD de PPC, um mero actor equivalente nos processos de cinismo usados pelo marketing politiqueiro socratista. Um que mergulhe o parceiro conveniente nos problemas criados pelos desmandos despesistas dos "socialistas" e o faça desde logo deles corresponsável. É um claro abuso de confiança e mais uma rasteira entre muitas e sucessivas ora aos adversários, ora ao País, ora à Justiça e a quem a agarrar. Com as costas quentes, fica-se mais legitimado para empatar o problema da Despesa, para o qual é preciso coragem e verdade, e foi um compromisso assumido mas entretanto não cumprido pelo Governo, algo que um negociador prudente deveria ter exigido ver exarado em acta. Não se pode negociar com um celerado cretino, rude e recalcitrante sem que ao menos um mísero papel ateste o que foi assumido. E mesmo assim nunca será de fiar. Elucidativo de tudo isto é o texto de Rui Moreira, hoje, no JN: «Ao que parece, o PS "não pede desculpa pelas suas convicções relativamente à Constituição" e não troca a revisão constitucional pela aprovação do Orçamento do Estado. E escrevo ao que parece, porque, como é consabido, o PS de Sócrates vai mudando de opinião em função dos dias e da maré. Ao que se sabe, essa troca nunca esteve implícita nas exigências feitas por Passos Coelho para aprovar o OE. As condições que o PSD colocou estão relacionadas com a necessidade imperiosa de controlar a despesa pública. Ou seja, depois de ter viabilizado o Programa de Estabilidade e Crescimento numa situação de emergência por causa das exigências de Bruxelas e dos problemas de financiamento externo do Estado português, o PSD exige, agora, que o OE reflicta as promessas então feitas pelo Governo de que a redução do défice seria feita, também, através da redução da despesa, e não apenas por via do aumento da carga tributária que na altura foi viabilizado. E, ao fim destes meses, já se percebeu pelas estatísticas que são conhecidas que o Governo não quer (ou não consegue) reduzir a despesa pública primária, que continua a crescer de forma descontrolada.[...] Esse "denouement" pode custar caro ao país no curto prazo, mas implicará uma bipolarização da política portuguesa que é essencial para que, de uma forma ou de outra, seja pela esquerda, seja pela direita, o país escolha um rumo, e deixe de ziguezaguear ao sabor dos estados de alma do primeiro-ministro e dos interesses temporários do PS. Terá, também, a vantagem de esclarecer de uma vez por todas a questão presidencial. Se o PSD anunciar que não viabiliza o Orçamento, Cavaco terá, finalmente, de fazer uma escolha. Desta vez, não terá refúgio. Mesmo que nada faça, como tem sido seu hábito, estará na mesma a fazer uma escolha.»
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