JÚDICE E A NOVELA LIMA
A vida pública nacional faz-se de biombos e tácticas de encobrir. São armas usadas pelas pessoas que detêm os recursos plenos, as cumplicidades determinantes e as oportunidades. A novela que envolve Duarte Lima caiu que nem ginjas nos media e no que então realmente interessava e incandescia a Opinião Pública: veio distribuir a atenção que se concentrava demasiado nos trâmites de uma PGR em maus lençóis, nos lixos processuais do Freeport, um processo na verdade condicionado e coarctado ao mais alto nível sob o preconceito de que o PM estava de antemão isento de quaisquer suspeitas. Só que há gente ao mais alto nível a surfar as lógicas de anomia, apatia e desinteresse do público. Conhecer e gerir estas coisas do gado superficial que as massas acabam por ser, sempre que encolhem os ombros, é uma arte cínica e tóxica, enquanto for possível dividir as pessoas para reinar, desinformá-las para as confundir, desbaratá-las para as controlar. É por isso que as intervenções de Júdice não são em nada inócuas. Não são normais. Escapam ao âmbito estritamente profissional. Configuram outra coisa: um feixe deliberado de insinuações assassinas. Farpas profissionais como afirmar que se Duarte Lima não declarou o dinheiro recebido da sua cliente é porque não é dele e que, não sendo dele, ou é da Rosalina Ribeiro ou é da herança, acrescentando que ao manter o dinheiro consigo, Duarte Lima levanta suspeitas sobre o seu envolvimento no homicídio, tudo isto representa todo um programa de acção com objectivos mediáticos que implicam uma leitura também política. Quer se queira quer não, Júdice está ligado à defesa viscosa e indefectível do socratismo e à lei da gravidade nas coisas do Poder como coisas que são como são. Em Júdice nunca encontraremos um pensamento e uma acção onde se acredite ou aceite que as coisas do Poder devam transformar-se e levar cada vez mais em conta as moções e aspirações de uma Sociedade Civil avançada. Porque se assim fosse, nunca receberia, com o nosso escrutínio, os milhões anuais do Estado na tal parecerística e consultadoria redundante, inútil e clientelar. Está tudo ligado. Duarte Lima assa convenientemente nos media e José Sócrates descola os costados do grelhador onde tem estado a estorricar não passando de um tição fumegante.
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