SNS: UNTUOSA BEATICE
O País está exausto de palavras, do espectáculo das palavras daqueles cuja obrigação não é proclamar intenções, mas descrever o que fizeram quando resulta tão óbvio terem agido despudoradamente ao arrepio de quase todas as proclamações. Analistas políticos, comentadores, bloggers, esses, sim, falem, analisem conforme quiserem, sejam lidos, comentados e rebatidos conforme valham a pena. Quanto ao PM, à verborreia do PM, aos discursos gesticulosos do PM, esses chouriços infinitos filhos do teleponto e do oportunismo explorado sobre a inépcia comunicacional do adversário, jazem esgotados. Mais: ofendem por serem um modo ostensivo de troçar dos cidadãos na sua bruteza habitual e irreflexão sagrada. O paleio do PM não configura qualquer descrição decente da realidade, sequer a noção clara de um desígnio nacional pelo qual nos realizemos e distingamos. Não são uma bússola fiável e um terreno sólido onde basear o futuro. Vila Franca de Xira teve de padecer hoje novos perdigotos a puxar ao sentimento no que toca ao SNS, mas o cúmulo do vómito é que o império da diferença e da excepção absoluta em quase todos os domínios da vida pública, que é José Sócrates, fale do Serviço Nacional de Saúde com untuosa beatice gemendo e chorando o cinismo dos elogios, dizendo «Nós queremos ser iguais». Era preciso que se praticasse o que se diz, tendo em conta a rapina que as parcerias público-privadas exercem sobre o erário público empobrecendo-nos e diferenciando-nos mais e mais, as dívidas monstruosas acumuladas nesse subsistema e a diferença crassa que cresce entre quem tem dinheiro e quem não tem.
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