FEIRA DAS CERTIFICAÇÕES
As Novas Oportunidades são filhas de propósitos estritamente formalistas segundo o espírito das licenciaturas relâmpago de alguns políticos célebres e infames homens de negócios. Elas macaqueiam a lenta e dolorosa, não lúdica, sedimentação de saberes que fez da Escola, a par da Igreja, uma das instituições mais fiáveis. Não é sério censurar a naturalidade com que nascem como cogumelos os vendedores de trabalhos, dossiês e portefólios para as certificações, no âmbito das Novas Oportunidades, sem considerar a globalidade do problema bicudo gerado pelo voluntarismo estatisticamente correctivo do ME. Trabalhos que não implicam trabalho, e são valorizáveis mesmo assim, eis a própria natureza daquele Programa, no qual o professor custosamente "orienta" um chouriço burocrático a fim de que pelo menos tenha congruência formal apreensível pelos leves e vagos alunos. Engendradora de monstros burocráticos na mesma proporção com que cria tachos pomposos para os "seus", o socratismo pariu a Agência Nacional de Qualificação (ANQ), que se encontra sob a tutela do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho. Parece-me milagre que, quando tudo estava a correr "tão bem", se tenha detectado durante «um programa de visitas de acompanhamento a Centros Novas Oportunidades», em 2009, a existência de candidatos certificados com trabalhos «retirados integralmente da internet, e com base nos quais é feita a validação e certificação de competências». Do mesmo modo, foram detectados dezenas de casos de formandos e ex-formandos que colocaram os seus trabalhos à venda na internet. Sem surpresa. Escândalo? Moderado porque a indústria da certificação não pode parar de reforçar a auto-estima de milhares de portugueses da mesma forma com que se enchem de hormonas os bichinhos do aviário. É por isso que a ANQ discretamente, como um sussurro, lança a «orientação e indicação técnica» aos quatrocentos e cinquenta feixes de tachos dos Centros Novas Oportunidades para que, vá lá, tenham algum cuidado e tal.
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