À CIGANADA PORTUGUESA

Agora que Sarkozy se encheu de coragem para conduzir a "ciganada" ao seu ponto de origem, mas com direito a voo e a cheque dentista, os roma tomaram-lhe o gosto e da próxima não porão os pés em França, mas, sim, em Espanha ou na Inglaterra. Com um pouco de sorte e mau aspecto, podem ser deportados de novo e ao fim de duas ou três deportações, dados os números de cada agregado, poderão alcançar uma pequena fortuna. As novas deportações são chiques porque não envolvem longas marchas da morte, os deportados sentem-se tímido-contentes com a atenção das câmeras do fugaz, pois os media degustam isto com a mais despudorada hipocrisia. De repente, todo o Arco Político se compadece da higiene precária, das pulgas, dos percevejos, da liberdade para moinar, das mulheres-máquina de parir. Sob um ângulo completamente imprevisto, temos mais, nós portugueses, é que pôr os olhinhos na "ciganada" deportada. As políticas em Portugal têm consistido em fazer a mesma coisa aos portugueses e cada vez com menos disfarce. Deportá-los do cerne da decisão e do centro da legitimidade política. Os deputados respondem perante os líderes políticos, não perante cidadãos que os não puderam conhecer e escolher. Os portugueses são ciganos no seu próprio País, pelo menos é assim que o Executivo e o Regime os trata. Quem, por todos os meios de fazer corar Armando Vara, não tem dinheiro em off-shores, é cigano. Quem se inscreve nas Novas Oportunidades e obtém quase instantaneamente um diploma com o qual já agora poderia ter nascido, é cigano. Quem paga o Fisco monstruoso que pagamos e não vê os problemas do défice e da dívida resolvidos, mas, pelo contrário, a Despesa a crescer descontrolada e o rating da República a encarecer sucessivamente os juros da própria dívida, é cigano. Quem nunca foi indicado para um cargo por Almeida Santos ou Mário Soares, longe da maçada de um concurso, é cigano. Quem recebe o RSI e progressivamente desaprende da procura de emprego, absorve uma cultura de dependência do Cacique, descrê da importância de estudar, para quê?, é cigano. Quem não é amicíssimo do Procurador Geral da República e não está metido em sucessivos berbicachos com grossas maquias de dinheiro surripiado com a sofisticada engenharia oportunística, só pode ser cigano. Portanto, portugueses, bem-vindos ao vosso admirável mundo cigano de ciganos. A vossa deportação faz-se de pasmaceira espiritual e passividade para com chulos. O vosso nomadismo consiste na indignidade de um Povo indiferente ao próprio destino e a quem o reja. Pode ser o Diabo. Pode ser a Europa, porque o seu único e grande lema resume-se no indiferentismo contido nisto: «Eles [nunca Nós!] é que sabem!»

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