BENTO, NÃO VÁS!


















Não vás à Turquia, Bento.
Não vás. Fica por casa. Permanece entre os tomos e os jardins
da tua cidade-estado.

A Turquia é território hostil e lá o laicismo
precisa de cem anos mais para criar a tolerância e o relativismo cultural e religioso
que sobram e são dormência já no Ocidente há muito em Coma aí.

Não vás. Temo por ti e pelo que te façam.
Pensa se não será melhor vindimar oculto numa terra qualquer e ter paz,
vê-te com o lenço ditoso na cabeça entre parreiras e cachos fartos,
carnavalescamente travestido numa velha de espírito endiebrado, por que não?
Pensa se não será melhor veranear noutro hemisfério
entre coqueiros e cabanas de palha.

Mas, pronto, sei que estás sereno e que vais.
Haja a violência que houver por causa de ti,
dos que representas
que é o Nome que a tua boca defende,
toda a violência alheia será sinal de vitória nossa.

O sangue inocente que alguns estão dispostos a verter é tão ridículo e feio e hediondo,
tão derrota para eles mesmos o terror que alguns pretendem desencadear,
tão inútil a chantagem em que uns poucos se apostam sobre o mundo,
que me parece dever eu ter calma e confiar sereno todo o tempo,
como sempre fiz.

Portanto, boa viagem, Bento.
Ficarei aqui a torcer por ti.


Joaquim Santos

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