NO DEFUMATÓRIO














Baço,
este vidro húmido,
estas barras de alumínio,
recortam a árvore suprema em frente,
quase cálice de brandy com seiva e hastes só no topo nuas,
fechando-a em puzzle.

Elárvore oscila ao vento,
os ramos obliquam-se-lhe de parte incerta vento.
(Vermelheja um carro que nos dá a escala).
Ralas e amarelecidas
resistem as suas folhas
numa cor só agora imitadora
de como em crianças desenhávamos o sol.

Nesta sala docente sem docência,
é habitual um fumar doente,
último reduto de névoa e margem.
O fumo fica,
entranha-se,
fossiliza,
torna-se uma só coisa com móveis,
chão,
assentos.

Um fumo fêmeo de séculos rescende das paredes,
grita ansiedades plúmbeas,
tem unhas de frustração,
sorrisos de convívio com fumo macho igual,
enxofre e alcatrão sedimentados
como num infernal vulcão
e conversas que «não saem daqui»
nem passam a arte ou a lei.

Fumo fêmeo de centenas de alminhas
docentes volitando ainda aqui, que cheiro, meu Deus!,
no seu terror por cadelas turmas,
no seu chichi gotejando tímido,
pela via-sacra do ensino
espezinhado,
em aflições represadas,
chichi nesse pano íntimo,
nesse tecido que freme
já e ao fim do dia
por liberdade
como por água
e detergente.

Joaquim Santos

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