DE UM VELHO ARDIDO


Em vão te recluías naquele monastério ocasional
num religioso descansar de egocêntrico desvario,
quando triunfante me relatavas fodas senis
com moças aos molhos juvenis
seduzidas com olhares e estilo
da tua verve desdentada,
forjada a frio.

Amizade para ti era somente trono
a que se dobra adorativo
o joelho reverente
e o teu dinheiro,
poupanças e negócios,
disco riscado ouvido em paciência
rumo à náusea mais exausta do que 'já sabemos'.

Ó amigo Henrique, Don Juan depenado,
tu, que nem notavas o sofrimento do teu próximo patenteado à tua frente,
tu, que nunca aliviavas a sua carga de dor à tua frente,
tu, para quem só tu mesmo eras assunto e centro e tudo,
tu, o das grandes conquistas fêmeas,
das sexuais fantasias só verbo-de-encher,
dos duvidosos remédios e poções pró-tusa duvidosa,
tu, enleado em ti mesmo como Narciso,
pedante merda, pedante mijo,
tu, diletante na vaidade dilatado:
setenta anos e pico,
não era tempo de teres juízo?

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