ISRAEL 60 ANOS E O SR.GUEDES


O Sr. Guedes, um velho activista do PC
agora herege, abjurador-apóstata do Partido Comunista
costumava mostrar-me os seus amarelentos papéis de combate político
(cartas, recortes de jornais, editais, sentenças e pronunciamentos judiciais)
e depois de denúncia da ortodoxia da mentira. Fora um duplo perseguido.
Perseguido pelos PIDES, quando militava ardorosamente para libertar e promover a liberdade.
Perseguido, amargamente perseguido, pelos ex-correligionários do PC, quando abjurou-Zita.
kjh
Tinha máximo orgulho
dos combates que liderara, das lutas corpo a corpo que tivera,
em nome do Partido e dos ideais que sinceramente abraçara,
mas declarava-me que a disciplina na mentira, a lógica da mentira,
a obediência servil e temebunda aos líderes se lhe tornaram intoleráveis.
lkj
O Sr. Guedes, hoje, com mais de setenta anos, vende Sorte num quiosque.
Gosta de conversar e de reflectir. As voltas que o mundo dá. Apoia Bush
na sua War on Terror, apoia Israel na sua Reconquista Territorial,
diz que são como nós, europeus, trabalham,
criam, fazem florescer o deserto, dão trabalho e trabalham mais uma vez,
que os palestinianos são preguiçosos e que em dois mil anos de Diáspora Judia
nada criaram de relevante que mereça permanecer naquele território.
Odeia os árabes e muçulmanos em geral: fanáticos de um fanatismo similar ao do PCP
que conheceu e em que militou o melhor dos seus jovens anos, em França,
junto da comunidade portuguesa ali imigrada.
Afirma que os terroristas devem ser aniquilados sem demora, eles que fazem perecer
massas de gente inocente e desvalida todos os dias.
lkj
Explico-lhe o meu amor por Israel, por um Israel moderado, sem veleidades
usurpadoras de ainda mais território,
embora seja tarde de mais e os planos meticulosos de reconquista prossigam
e prosseguirão nem que levem trezentos ou mais anos, que o Judaísmo é Territorial
e que os judeus radicais são tão ou mais perigosos que os islãmicos radicais,
explico-lhe a minha discordância da Guerra do Iraque e a minha opinião sobre Bush
para quem o mundo parece ser bem menos relevante que todo o Texas,
explico-lhe que o terrorismo islâmico é sinal de desespero e de derrota
e não terá qualquer futuro, embora as nossas sociedades devam ser sobrevigilantes.
lkj
Não contesta qualquer dos meus argumentos
e é muito a medo que, mudando de assunto, procura resgatar este Governo
do estigma da insensibilidade social e da falta de visão de conjunto.
Sabe que lhe perdoo tudo, perdoo-lhe que só me tenha vendido Azar até ao momento,
mas não lhe perdoo, digo-lho afectuoso e a sorrir, que ouse canonizar este Executivo.
Desde há anos que a obediência dos nossos Executivos a Bruxelas
bem como a estupidez irrealista de Bruxelas
em relação a um País em tudo periférico como o nosso,
entre outras coisas e outros erros, estão a fisco-liquidar a nossa economia.
E o tempo de errar clamorosamente nesse ponto esgotou-se.
kjh
84 anos,
histórico activista por uma parceria entre judeus e árabes. Vive em Telavive.
É um mito destes 60 anos de Israel. Filho de um rico sionista alemão que levou a família para a Palestina em 1933, Avnery lutou contra o domínio britânico e, desde 1948, por uma aliança semita entre judeus e árabes no Médio Oriente, defendendo sistematicamente a criação de um Estado palestiniano em co-existência com o estado israelita. Foi deputado no Knesset e é fundador do movimento Gush Shalom.
kjlh
A caminho dos 85 anos, continua imparável, a intervir com artigos via Internet e nas manifestações. "Não celebro. Estou orgulhoso do que conseguimos: a língua hebraica, a democracia israelita (em Israel, não nos territórios ocupados), os nossos avanços tecnológicos e económicos. Mas sinto-me muito triste por ainda continuarmos a oprimir outro povo, por o meu governo não fazer nada para obter paz, por a nossa sociedade, outrora orgulhosa da sua igualdade (o kibbutz!), ser agora tão desigual como outra qualquer no mundo. Tudo isto tem de ser mudado!"

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