APELO AO ACTO ALIENÍGENO DA ESCRITA


Não temos, muitas vezes,
outras armas senão esta da escrita.
Se nos maltratam, se nos humilham,
se nos perseguem,
se nos não podem compreender,
a arma de clarificação e robustecimento,
quase oração ou mais que ela,
quase transe
quase zen,
nirvanal despojamento,
é pensar, escrevendo.

Mas, por vezes,
também não há instrumento de amor maior,
de maior paz, de um olhar bem limpo
ante tudo,
perante todos,
que o da escrita que fazemos esvair-se dos nossos dedos,
excreção e espírito,
sinceridade e construção pensada
para agradar ao corpo, aos sentidos todos
- a esta fome íntima de sentido
que a realidade (sem a escrita, sem o texto)
nos furta a cada dia.

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