PARAÍBA
Aqui tô bom.
Pego capim dech cêdim pru gado, todu dia pegânu e botânu capim.
Boto feijão... dô veneno nêl.
À noite vô pescá, toda a noitinha pescânu.
Aqui é bom.
Nem eu nunca na vida tive doente.
Os cabra pegaru o meu fiu.
Dois, os cabra foru e pegaru êl.
Eu tava lá. Bala num qué nada comigu não.
Eu tava lá. Eu sô brabo!
Vieru e deru mei-mundo de tiro lá
por coisa di nada, uã pernada de outro dia, um bate-boca perdido.
Mach vieru.
Primeiru tiru tombou di bucho êl logo ali mêchmo, meu fiu.
Aí eu vô e quero salvá êl,
ser cobertô dêl, os cabra pegaru à traição,
tiru aqui, tiru ali, meu fiu no chão,
procuro a arma dêl, num tem, não. Num tá no cinto. Cadê? Num tá.
Esqueceu êl. Tenhu di fugi, cadê a achma?
Os cabra mi persegui, tiram em mim,
mei-mundo de tiro em mim,
sombrio mi perco na sombra e vejo tudim di longi:
os cabra vorta e tiru mais em meu fiu,
um tiru pegou a mão,
outro pegô a perna.
Meu fiu no chão.
Os cabra fugiru.
Sei quem são êli.
Fiu chega vivo ao hospital, mach morri logo ali mêchm.
Vim embora di lá, cidade ruim.
Aqui tô bom.
Trabalhu o di todim.
Sessenta e três anu e semp fui macho,
tem aí uma galeguinha, ela vem, a gente rebola nus matu...
Aqueles cabra vão pagá...
Não ness'estante, mach vão pagá...
Meus ôto fiu telefona: «Paínho, vamu pegá êli, fiu duma rapariga, vamu?»
Eu digo: «Mior não. Deixá poeia'sentá.»
Aqui tô bom.
Quandu cê voltá
vou cunzinhá uma gibóia pá ocê.
Tá bom?
çlk
Está bem, meu querido amigo!
Às Pessoas que Eu Conheci e Amei Profundamente
no Meu Primeiro Brasil.
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