UIVOS COMO A UM ANJO INSOMNE


Ó experiência em pele de como é viver na pobreza,
entre os pobres e os derreados, quando todos os rostos têm a resignação do Fado
mais ancestral: aquele SáurioFado em que o desalento é pai e órfão do desalento!
Ó fomes e ansias de mais, sempre insatisfeitas e sempre desvalidas,
sem nenhuma apoteose de deputados em orgasmos de solidariedade,
abraçante e beijoqueira e ahs e palmas e estremecimentos pele de galinha,
e desfalecimentos companheiros com descontrolo esfincteriano
e o quebrar de ossos de quem oligarquiza o estar na política,
na recepção ao Pobre Pedófilo que regressa a de uma Prisão Preventiva
insuficiente e irreparadora!
lkj
Ó contrastes mais contrastes dentro do mundo dos Mercedes que nos mordem as canelas,
que nelas roçam, nas bermas da cidade, numa displicência veloz,
num desafio de «eles são eles, eu sou eu dentro do Mercedes»
sem as canelas expostas nas bermas da cidade voraz.
ljk
Ó ainda mais ó, quando dói por demais que o trabalho valha zero,
que valor, saber e mérito andem a servir cafés entre humilhantes grosserias
e exigências de profissionalismo na exigente profissão de ser escravo
de brutamontes e grunhos experimentados,
e se ande a divertir clientes ocasionais que o querem,
ao café que não ao corpo, mais quente,
afinal mais frio,
afinal em chávena cheia,
afinal em chávena quente...
lkj
Ó novos ohs de horror e horrendo na moralização reformista
que vara tudo e todos e que vai devorando, expelente,
numa só dentada bulímica os vícios laxistas do Funcionalismo Público,
gerando novos modos engenhosos de se ser escravo
e joguete no Funcionalismo Público.
E assim se dejecta gente
e assim se expelem ónus
que eram a gente precária.
ljj
Ó desemprego, meu amor, que te deixas servir a largos sorvos e vais e voltas
e andas sempre a descer dentro das bocas demagógicas de quem Mente e Meneia
a cabeça ministra, nas grandes poses de palanque,
nas grandes cenas do espectáculo promocional da Pescanova,
mas erectas para entrar na nossa carne!
Ó desemprego, como eu te amo e te mordo e conheço e trinco de raiva!
lkj
Sermos dois milhões de pobres em Portugal exige haver voz, já!
Sentirmo-nos um só com com os pobres dos demais países exige haver voz, já!
Sermos campeões, nesse mundial, nós, os Portugueses de sempre,
no meio de uma Europa em sentido oposto,
onde não há tal fosso entre ricos e pobres,
onde talvez não se veja a vergonha de um BES, um BCP e um BPI,
a lucrarem obscenamente seis milhões e trezentos mil euros por dia,
enquanto as fortunas dos cem portugueses mais ricos aumenta um terço
enquanto as desigualdades brilham como bosta fumegante
estrume de uma Justiça só Além.
lkj
Eu anjo-te, Mundo meu, dou-te a minha mão: aí vai ela deste meu corpo,
infinitos corpos!, por levantar do chão.

Comments

Preciso de sugestões para o nome do blogue que aAlda Inácio está a coordenar. Também preciso de ajuda em relação à etrutura e aos conteúdos.
antonio ganhão said…
Levantados do Chão é um livro de Saramago que narra uma história de miséria no mundo campesino do Estado Novo. Estamos lá outra vez.
Ricardo Rayol said…
cara, além de mandar muito bem cada vez fico mais espantado com as similaridades entre nossos países.

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