CAPUZES E CASTIGOS


Odeio capuzes,
odeio luzes,
odeio o amor e o aconchego que só se têm no Natal.
Odeio as prendas, odeio as pressas,
odeio as mortes rodoviárias que, por ser Natal, são tão expressas.
Odeio o Eixo das Abcissas e o Eixo do Mal,
Odeio o Arrastão, a Origem das Espécies e o Da Literatura, na sua indiscutibilidade consensual.
Odeio a pazada de morte do IVA e a pedra tumular ao pensamento particular à solta.
Odeio as cismas, os grupinhos herméticos,
odeio ter de odiar,
o odioso Nuno Markl é odiável na sua pose besoura, banal, nihil!
«Lamento, mas hoje terás fome e sede,
hoje não houve novamente totalistas,
o megassistema informático diz que em Portugal um El Gordo
é o caralhinho, nem pensem, ide sonhando, camaradas!, que não há!»
«Lamento, mas o seu currículo demonstra que as suas qualificações
excedem o que demandamos. É licenciado, não é?!»
Sorrateiro, socrateiro, ele diz que a produtividade baixa e os baixos salários
são preço da baixa formação e instrução dos Portugueses.
Odeio a mercearia de Interesses do Bloco Central de Interesses,
e odeio que Menezes seja merceeiro, refém de esses velhos vícios de Estado,
refém do QREN, refém merceeiro da lógica merceeira na PutrePolíticaFacta Nacional.
Odeio a fecal aristocracia fatal e a excelência fatal que monologa fecal
longe dos de carne e osso,
odeio as estratificações e as barreiras ao amor incondicional e fluido que de nós sai.
Odeio a mentira,
odeio a cegueira confiada, confiante, sossegada do Povo.
Odeio a obscuridade de cada qual e os bolsos esvaziados de Futuro.
Odeio a alienação engelhada dos Fóruns tristes dos Jornais de Notícias e dos outros Jornais.
lkj
Hoje amei o Fernando,
que é humilde, tem três filhos pequeninos que atirei ao ar,
e entre gritinhos divertidos, meigos, me pediam: «Outra vez!!!»
o Fernando, que fez de conta que trabalhou e cumpriu o serviço encomendado.
Amei a sua tatuagem de ex-presidiário.
Amei as lágrimas inconsoláveis da sua mulher por vê-lo talvez despedido, talvez suspenso,
e punido no vencimento.
Amei hoje a inocência feliz dos seus três filhos pequenos.
Amei o desvalimento injusto e o ter ficado comovido
com as coisas simples da gente humilde e simples.
LKJ
Quisera alavancá-los a todos às coisas exquisit
e saborosas e densas e culturais, às viagens, à Educação,
aos Museus, ao melhor e mais humanizador Lazer,
aos Bons Filmes, ao Bom Teatro, ao Circo, bens interditos!!!
Quisera ir com eles rasgar esses gigantescos outdoor parolos West Coast of Europe,
que recobrem o Palácio do Bispo em obras e outros lugares férteis em imaginação cara.
Quisera ir com eles e borrar de tinta amarela emulsionada com merda e vómito
essas representações da Mariza e do Ronaldo
e do Mourinho,
que nos vexam de redutor,
de limite,
de cu-de-Judas,
de periférico,
de resignado.
Quisera ir com eles até ao Ministro Amado e expor-lhe o contrário de ser pedantolas,
vaidosíssimo, estar à sua frente sem maneiras, insolente, desprezivo,
peidando e cantanto, fazer de conta que era Sarkozy,
mas com mais insolência, uma insolência de Bobo Risonho como ele,
sem cumprimentos e sem sala.
Troçar redondo das Grandes Encenações Lisboetas com que este Governo se masturba.
Até querem que o País fique mais forte, mais rico, menos deficitário.
Mas não se querem borrar com a nossa dor, com os nossos gritos destoantes,
com as nossas carências, com as nossas insuficiências doridas, sacrificadas:
eles e a infecta ASAE a enrabar totalitária os a quem nem é dado sobreviver;
eles a soterrar de um FISCO retroativo os há muito soterrados de zero, como eu.
A mim, o Governo pôs a patorra pesada no pescoço no ano da Graça de 2007:
lesou-me no trabalho,
lesou-me na tributação,
lesou-me na plenitude da cidadania que vai cerceando.
Tudo fez pelo reforço do Sistema dos Poderosos. Plutogovernou.
A Maioria é torpe.
A Maioria e o seu discurso tresandam.
A Maioria está a cagar para o Povo.
O Povo não conta para a Maioria.
Se governar é enriquecer o mais possível os mais ricos,
se é bipolarizar o País de negrume e miséria, que o resto acontece por si,
então reescreveu-se o governar, então que se foda o governar!
Quem abraça Putin e Chávez e Mugabe e Khadaphi, quem ainda tem sorrisos para esses-isto,
além de bons negócios na amoralidade típica dos bons negócios,
deve odiar de morte a Anna Stepanovna Politkovskaïa que nos habite.
Anna Stepanovna Politkovskaïa, roga por nós!
É o Poder absolutizante a fazer escola, meu Deus,
a fazer escola sem que ninguém queira saber.
lkj
Odeio jogadores inveterados, diletantes, esbanjadores
na impune hierarquia criminal dos Bancos.
Adoraria que esses falsários desonestos e exemplares abusadores dos pequenos
se vissem violentados nos tenros cus socialmente insensíveis
numa impiedosa prisão brasileira louca.

Comments

Tiago R Cardoso said…
Isto não seram demasiados odeio ?

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