AUTO DA PORCA DO REGIME IV
[As Aventuras do Santa Alcoveta]
SóCrash, o Santa Alcoveta, o grande herói do gamanço nas governações, o mega mago das comissões, ficou inusitadamente inspirado com o grande colóquio mantido e mentido com o Diabo Nu, especialmente depois da festa no Gambrinus, onde os amigos do Diabo vão amiúde. Já mais refeito, e perante a impopularidade difusa que vai recobrindo o seu Gajo, o Costa, agora chamado o Pluvioso Costa, resolve reunir-se com o seu clone e sósia, o Beato Silva Clone Pereira. A reunião é agendada nas catacumbas do Corporações, onde se giza todos os dias formas de compilar informação de foder adversários, entalar marcelos e chantagear oponentes. O Beato Clone é o primeiro a abrir a habitual conversa de merda.
— SóCrash, meu querido líder e espelho de trejeitos, o Pluvioso Costa está a ser vítima do tempo e a perder popularidade. Os nossos media fazem o que podem, a SIC e a Constança louvam-no, evitam o contraditório, poupam-no à crítica e a qualquer mácula, como o passivo da CML de mais de 1000 milhões... mas as redes sociais vergastam-no todos os dias... Sobretudo quando chove.
— Eu quero que as redes sociais se fodam. Já estou farto de mandar dizer que é para não recordarem os negócios que mais me envaidecem. Fala-se no BES, falam em mim. Fala-se na PT, falam em mim. Em vez de criticarem e derrubarem este Governo da Direita Decadente, é a minha obra, o meu legado e a minha herança... Desejem-me, porra, mas esqueçam a gasolineira que fali e a Chafarica da Pátria, que fodi.
— Acalma-te, Santa Puta! Olha que ainda serás o nosso Presidente da República. E tens de pensar que a Direita anda assustada. E assustada com a própria Direita. Por exemplo, olha o Mendo Castro Henriques.
— O que tem ele, Clone?
— Apareceu na TV várias vezes, mas agora, tal como o nosso Rui Tavares do nosso porta-chaves LIVRE, ganhou alguma notoriedade por ser um dos fundadores do «Nós, Cidadãos».
— O que é essa merda, Beato Clone?
— É um movimento que ambiciona concorrer às próximas legislativas e ao qual aparecem já associados os nomes de Rui Rangel e José Cid, Santa Puta.
— Temos de abordá-los, Beato Sósia.
— Olha que na na edição do Prós & Prós, de 29 de Setembro, a sua intervenção deixou muito incomodado o gajo do Passos, o pernalta do Luís Montenegro. Castro Henriques disse representar os interesses daqueles que saíram à rua em 15 de Setembro de 2012 numa das maiores manifestações de sempre em Portugal.
— É burro. Deve ser outro Marinho e Pinto, esse traidor. Outro demagogo, com vaidades demagógicas. Essa multidão juntava interesses muitos dispersos e até radicalmente contraditórios, Beato Sósia.
— Sim, Santa Puta, já sabemos que é um ambicioso, mas podemos tirar partido da suficiente credibilidade de que goza para ser uma bandeira eleitoralmente viável que nos tenha, que tenha ao teu Gajo, o Costa, como aliado.
— A Direita, Beato Silva Pereira, esteve em peso nesse protesto anti-TSU, as turbas do PSD e CDS contribuíram decisivamente para a grandiosidade surpreendente do evento e essa heterogeneidade ideológica e social dos participantes explica tanto a dificuldade da opinião profissional no seu diagnóstico e prognóstico como explica a ausência de qualquer efeito político desse protesto nacional. Temos de mandar o meu Gajo, o Costa, ao próximo congresso do «Nós, Cidadãos». Quando é?
— Não sei, Santa Puta. Mas vamos tentar aproveitar o aproveitamento do Castro Henriques dessa mobilização civil, por mais improvável que seja o seu sucesso.
— Mas então o que é que assustou o pernilongo do Montenegro, ó meu Clone Sósia?
— Meu querido líder e espelho de todos os meus trejeitos e tiques de linguagem, Santa Puta, Castro Henriques disse o óbvio. Disse que estávamos piores do que com o nosso... o teu último Governo. Disse que os testas-de-ferro dos mercados afundaram o País por oportunismo e incompetência.
— Brilhante! Até parece que esse imbecil do Castro Henriques já trabalhou no nosso Corporações, Sósia.
— O Montenegro cagou-se todo com essa eloquência e com o facto de haver um gajo da Direita a repetir a nossa cassete. Queres melhor, Santa Puta?!
— Pois então, Clone, meu filho, é preciso federar e evidenciar esse potencial do movimento «Nós, Cidadãos» que pretende corroer a base tradicional do PSD e do CDS com a problemática também defendida pelo meu Gajo, o Pluvioso Costa: pode o eleitorado continuar a suportar estes trafulhas que nos vão ao bolso para pagar as minhas merdas e dívidas e despesas empurradas com a barriga para quando estes Direitolas de Merda fossem Governo ou mudar?!
— Graças a criaturas oportunistas, idiotas e simplórias como o Castro Henriques e o Marinho e Pinto, o espectro eleitoral para as próximas legislativas vai estar completamente fraccionado e lançar o País numa nova crise de legitimidade, tal como passou a ser o nosso sonho, após 2011. Virá, como sonhámos, o caos, o desejo popular de um optimista diplomaticamente agressivo com os credores, um líder visionário... tu, Santa Puta...
— Eu! Ohhhh, Sósia, coça-me aí que eu gosto e massaja-me as meninges!
— ... ó sim, querido, alguém capaz de esmurrar os cornos da chancelarina Merkel, atirar um pontapé aos colhões mirrados do filho da mãe do Schäuble e ir dizer ao filho da mãe do Draghi que têm de nos dar dinheiro, senão fodemoze-us. Consigo imaginar o Povo a encher as ruas e a gritar por ti, Santa Puta: «Volta, SóCrash! Regressa Santa Puta!»
— É um belo sonho, mas a Presidência da República é qualquer coisa que o meu Gajo, o Costa, certamente tratará de operacionalizar. Mas não sucederá que esse Castro Henriques anule Marinho e Pinto e Marinho e Pinto anule esse Castro Henriques nalguns dos temas e promessas, Sósia?!
— SóCrash, lembra-te que o Marinho e Pinto é um bronco, um carroceiro. Castro Henriques, pelo contrário, manifesta uma imbecil elevação intelectual e um idiota enraizamento profundo nas preocupações da classe média e lá, onde a base de apoio do ex-bastonário é um albergue espanhol nivelado por baixo, Castro Henriques apresenta-se como um membro de uma sociedade civil produtora de riqueza a quem repugna o populismo circense do Marinho e Pinto, mas não repugna a bancarrota da República graças ao lastro de dívida com que nós a comprometemos por muitas e boas décadas. Portanto, Castro Henriques é dos nossos. Olha por ele mesmo. E, por ele, está-se a cagar para o todo nacional, tal como nós.
— Pois então, Beato Sósia, é bom que o meu Gajo, o Pluvioso Costa, vá ao congresso do «Nós, Cidadãos» dizer umas coisas simpáticas e impostoras, antes que a Direita deste Governo o descredibilize.
— Mas se o teu Gajo, o Costa lá for, o pessoal da Extrema-Esquerda vai zangar-se connosco, Santa Puta...
— Justificamo-nos com uma merda qualquer... uma coligação alargada e transversal no sentido de apear este Governo da Direita Decadente. Os gajos da Troyka, dos cortes, dos impostos, das metas cretinas do défice... vamos cercá-los pela Esquerda e pela Direita e derrotar o calvo do Passos e a bicha do Portas com este Castro Henriques, mais um. Já só falta que o «Nós, Cidadãos» convença o nosso grande irmão, parente e amigo de ambições para que os lidere...
— Quem, Santa Puta, inigualável SóCrash?!
— O António Capucho. Contamos que ele assuma uma posição liderante e combativa, Sósia Clone.
— Excelente!
— Que avance. Isto não é só andar a meter nojo nos jornais e nas TV, a perseguir o heróico e constrangido Governo do seu Partido. Já que ele neste momento odeia os liberais que nada lhe deram, nem benesses, nem sinecuras, nem posições, enfim, não o contemplaram com nenhum despojo do pote, que avance. Não te parece, Clone?!
— Sim, Santa Puta, o Capucho ao aportar ao debate público a sua gravitas de exemplar cavaquista, fará com que os danos no PSD tenham o potencial para serem históricos.
— Ahahahahaha, Sósia, meu Sósia, és brilhante!
— Não tanto como tu... eheheheheeh.
E foi deste modo ternurento e profundamente cúmplice que Sósia Clone Pereira e o seu Santa Alcoveta cessaram a conversa, abraçando-se muito e roçando os narizes à esquimó. Cabe acrescentar que quando Sósia fazia menção de lhe dar um beijo, SóCrash gritou com uma ferocidade de bicho: «Não... Aqui, não, Sósia!»
Afinal, ainda estavam no covil do Corporações e ali nenhuma informação ou pseudo-informação se perde, toda ela se transforma em duplipensamento e registo para arremesso futuro.
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