AUTO DA PORCA DO REGIME I
[As Aventuras do Santa Alcoveta]
SóCrash, o Santa Alcoveta, convoca à Bramcamp o seu protegido Costa para fazer o ponto de situação da situação do silêncio e percurso do Costa enquanto seu Gajo. Ei-los juntos, finalmente, juntos, na grande sala repleta de perfumadas rosas vermelhas. Uma coisa aborrece sobremaneira SóCrash. Não, não é a rejeição do PEC IV. Foi aquilo que o Ministro António Pires de Lima ousou dizer no passado dia 14 à Comissão Parlamentar de Economia. Costa é o primeiro a tomar a palavra:
— Olha, pá, SóCrash, a chuva já passou, as sondagens que nós encomendamos dizem o que queremos...
— Gajo, podes continuar calado, mas bem que me poderias defender publicamente do que o pulha do Pires me está a assacar?
— O quê, Santa Puta? Sabes que há coisas que é melhor eu nem comentar.
— Gajo Costa, o Pires disse que os problemas actuais da PT foram causados no passado por mim, pá, que tudo começou com os meus Governos e acabou com os meus Governos, pá...
— E não é verdade que tu controlaste a PT, pá?! A PT era nossa, pá.
— Também tu, meu Gajo Costa?!
— Posso ser socialista, líder do PS, mas não sou o teu pau-mandado, Santa Puta. Os nossos Governos interferiam grosseiramente na PT, daí os problemas actuais.
— Gajo Costa, não voltes a dizer que não és o meu pau-mandado.
— Mas não sou.
— Tá bem, mas não digas, pá. Fico logo nervoso.
— Mas ó SóCrash, o nosso Governo usou a Golden share para impedir que a Sonae comprasse a PT. O Salgalhado foi posto ao barulho. Tu querias controlar pessoalmente aquela merda toda.
— Costa, meu Gajo, é verdade, mas isso não se pode dizer. Nenhum socialista pode dizer essa cena.
— Tá bem, eu não digo, mas o facto é que o teu e nosso Governo obrigou a PT a fundir-se com a Oi. Não me vais dizer que os problemas actuais não tiveram a ver com isso, vais?!
— É verdade, Gajo Costa, mas a Direita é que tem ficar mal nesta balbúrdia, pá, o meu amigo Proença está a negociar com a Altice, pá...
— Basicamente, Santa Puta, a PT servia para os Governos e os Partidos de Governo meter uns trafulhas aqui e acolá, no BCP e assim traficar informação e dinheiro e influência e poder...
— Pois, pá, Gajo Costa, isso é tudo verdade, mas custa-me que sejas logo tu, pá, a dizer-me a verdade na cara. Olha como o nosso impoluto Paulo Campos me defendeu, ele que desviou centenas de milhões de euros para empresas amigas envolvidas nas PPP, como o Correio da Manhã e a Ana Gomes têm demonstrado.
— Oh, toda a gente sabe que o Paulo Campos assinou PPP de mais, deve ter comissionado, e ludibriou a teu mando o Tribunal de Contas... Toda a gente sabe...
— Ó Costa, meu Gajo, como é que tu dizes estas coisas, pá... Nem parece teu... Tu afinal não te orgulhas do nosso passado e da minha herança?!
— Em público, sim. Mas em privado digo aquilo que penso. Que se passa, tens medo de ter escutas aqui?!
— Não, pá. Um gajo acautela-se, compra uns espiões e garante-se... Não, tu estás muito ofensivo... Acho que é o fedor destas rosas que te tá a dar cabo da mona... Que irreverente, pá, Gajo Costa!
— Pá, Santa Puta, toda a gente sabe que quando certas verdades são ditas, seja pelo Correio da Manhã, seja pela Ana Gomes, seja pelo Pires de Lima, seja por todos aqueles que sabem que tu és o mestre corrupto entre todos os mestres, tu tens sempre uns caramelos que garantem que são mentiras de forma grosseira a respeito de acontecimentos completamente discutíveis, que tudo não passa de suspeitas, difamações e calúnias.
— Como é que queres que me defenda, Gajo Costa?! Temos de transformar os factos com que me emporcalhei no emporcalhamento dos que os denunciam. Sim, fui um aldrabão de feira. Sim, torturei a moral e a ética, sim, promovi a decadência.
— Sim, havia interferências governativas na PT nos teus Governos, Santa Puta...
— Mas tu sabes o que é uma Golden Share e de como ela servia tanto para dar alcance estratégico internacional como para controlar desvios numa empresa com a dimensão e valor da PT na altura?
— Que desvios, os desvios da interferência política promovidos pela gula do Partido no Governo?!
— Meu Gajo Costa, a perda da Golden share, deixando a empresa totalmente nas mãos dos accionistas, é que teria dado origem à sua implosão adentro da implosão do império BES.
— És fodido, pá?! Mas isso não significaria que quando e se o BES e a PT dessem com os cavalos na água o Estado teria de colocar mais uma vez a mão por baixo e chamar os contribuintes a suportar mais uma gestão ruinosa público-privada?! Santa Puta, tu não tens mesmo noção da pedra tumular de dívida que atiraste para cima dos contribuintes portugueses, pois não?! Na compra de 23% da Oi, a condição imposta pelo teu Govenro para aceitar a proposta da compra da Vivo foi o reinvestimento de metade do valor pago pela Telefónica, 3,75 mil milhões de euros, na compra de uma posição de 23% na Oi. Este foi o negócio mais ruinoso da história da PT. Eventualmente a bastante maior Oi engoliu a PT, os 23% da Oi que na altura custaram 3.750 mil milhões de euros, hoje valem cerca de 600 milhões de euros. Uma perda para os accionistas de mais de 3.000 milhões de euros. Na altura tu congratulaste-te diante de todo o país com o negócio feito.
— Está feito. Importa agora é foder com a Direita Decadente. A dívida pública aumentou com eles...
E se tu fores mesmo o meu Gajo, Costa, vais dizer esta e outras mentiras até o eleitorado ganhar um ódio e um asco a estes gajos, pá, equivalentes ao que milhões de portugueses nutrem por mim até hoje...
— Mas ó Santa Puta, para isso é preciso dinheiro. Dinheiro para pôr os nossos a falar a mesma coisa, em coro. Sozinho não consigo vender essa narrativa. O dinheiro é que permite a promiscuidade entre jornalistas e agendas políticas avulsas como a nossa.
— Achas pouco aquele que damos para que ninguém te moleste a incompetência para minimizar o impacto das chuvas entre os lisboetas e os pequenos comerciantes?!
— Não supunha...
— A cena de te manter em estado de graça custa muito caro, Gajo Costa, muito caro.
— Caro foste tu ao País. Graças à golden share do nosso Estado-PS, a PT quase perdeu um grande negócio, a venda da Vivo, e meteu-se no pior negócio da sua história: a compra da posição na Oi. O segundo pior negócio da sua história, a compra de papel comercial da Rioforte, não teria sido evitado com a golden share porque era uma prática já vinda de trás.
— Gajo Costa, tu vê lá como é que falas! Ainda és o meu gajo, pá.
— Claro que sou, Santa Puta. Mas olha que nestes dois negócios, patrocinados pela tua golden share do nosso Estado-PS, a verdade é que a PT perdeu o correspondente a 4 vezes o seu valor actual, ou perto de 4 mil milhões de euros. A golden share do nosso Estado-PS não teria salvo a PT, bem pelo contrário. A golden share do nosso Estado-PS está é na origem dos problemas actuais da PT. Tivesse sido extinta mais cedo e a PT poderia valer hoje 5 vezes mais.
— Daqui a pouco vais estar a insinuar que a culpa da derrocada do nosso GES EBs foi minha...
— E em parte foi, Santa Puta...
— Detecto aqui uma certa insubmissão, Gajo Costa. Não estou a gostar....
— Ó vamo lá ber, e esta merda ainda não fui capaz de dizer na Quadratura, uma parte do défice actual deve-se aos pagamentos das PPP assinadas por ti e pelo impoluto Campónios. Mas isso foi outra forma de disfarçar dívida e défices passados.
— Tem lá cuidado do que nos acusas, Gajo Costa.
— Antes das PPP, um Governo que construísse uma auto-estrada teria que contar com essa despesa no orçamento do ano em que a auto-estrada fosse construída, aumentando o défice.
— Claro, pá. Mas nós fomos muito mais inteligentes...
— Pois foste, Santa Puta, utilizando uma PPP, um Governo pode construir uma auto-estrada sem qualquer impacto no défice, empurrando esse custo e respectivos juros para os governos seguintes. Tu até tens razão quando dizes que a dívida subiu bastante imediatamente após a tua saída de funções governativas, mas não podes esquecer que esta dívida é, maioritariamente, a tua dívida.
— Costa, meu Gajo, foi assim que fui feliz e me tornei próspero, de 2005 a 2011, quando rebentei com a almofada do Tesouro...
— Precisamente, Santa Puta, a dívida que cresceu após a tua saída é a dívida que tu escondeste através das PPP, dos calotes a fornecedores, do esvaziamento das reservas de segurança do Estado que quase deixaram o País sem capacidade de pagar salários e pensões, e do caos em que as políticas do teu Governo deixaram o sistema bancário.
— Costa, meu Gajo, já não sei se ainda és meu, mas consola-me que nunca venhas a ser capaz de dizer em público estas evidências que a Direita Decadente costuma imputar-me.
— SóCrash, por quem és?! Posso ter cara de santinho, mas nunca daria largas à minha consciência. Isso é impossível na nossa agremiação. Quem se mete com o Rato, leva. Quem entra no Rato, abandona toda a consciência.
— Lindo menino, Gajo Costa.
— Ó SóCrash, adoro-te, pá. Aonde iria eu e como esconderia eu o passivo de mil milhões da CML sem o teu apoio e o teu Poder?!
— E o do nosso Padrinho Don Mariolone, Gajo Costa...
— E o do nosso Padrinho Don Mariolone, Santa Puta...
E foi nestes termos esclarecedores que o Santa Alcoveta terminou o ameno colóquio com o seu Gajo, o Costa, tendo sempre razão e jamais acolhendo uma talisca por onde a dúvida penetre.
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