Ovo Celeste Sem Casca

Há dias em que se mostra mais, em que quer ser, e é, o centro da sede.

Nesses dias, certos corpos ganham peso por si e, perdendo velocidade,
colapsam sob um arfante suor:
pedidas, as bebidas em lata nunca se apresentarão frescas
e o cubo de gelo estará ali no copo em obscenas cumplicidades com a palhinha
só por uma tórrida questão de sugestão gelada.
Se sabes, de verdade certa,
que a cerveja nunca estará semipétrea e glacial,
não a peças. Passa sede a sério para variar.
Bastem-te, alienígenos,
todos os odores corporais dos outros,
no Bus,
no metro,
na missa,
como incontornáveis testemunhas de Jeová,
a baterem-te à porta do olfacto,
coagindo-te à salvação pelo sovaco.
Na cidade, o ar é seco e, em plena praça,
lançando um olhar esquimó em todas as direcções,
à média altura, a paisagem ondula,
oscila, numa dança térmica, reverberativa.
Então não vás.
Joaquim Santos

Comments

Goticula said…
obrigada pela visita.
Passarei com mais tempo.

beijinho
Anonymous said…
É muito interessante como constróis teus textos, dando vida há seres inanimados, imaginando possíveis diálogos, satirizando com arte.
beijinhos
Titá said…
Foi a descrição masi intensa, mais calorosa que alguma vez li sobre o calor. Adorei!!!
É um cheirete... :)
Anonymous said…
E se seus raios
Te surpreendem numa qualquer rua.
Não desesperes.
Ele põe-se
E voltará a Lua.
Anonymous said…
Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
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