SOARES ANTECIPA ATENTADO CONTRA PASSOS

«Os portugueses estão desesperadamente contra este Governo. Não há qualquer dúvida. Contudo, Passos Coelho diz que não se aflige com isso. Talvez até goste. Mas é preciso que se lhe diga, antes que seja tarde, que corre grandes riscos. Inúteis. Tem Portugal inteiro contra ele: sacerdotes, militares, de alta e baixa patente, cientistas, académicos, universitários, rurais, sindicalistas, empresários, banqueiros, pescadores, portuários, médicos e enfermeiros e, sobretudo, a maioria dos seus próprios correlegionários do PSD. [...] O povo não existe para o primeiro--ministro e para o seu Governo. Tenha, pois, cuidado com o que lhe possa acontecer. Com o povo desesperado e, em grande parte, na miséria corre imensos riscos.» Mário Soares está desesperado, o que se traduz numa retórica retorcida e desonesta. Nós estamos desesperados, o que se traduz numa emigração em massa e em estratégias de contenção nos gastos com víveres e medicamentos para fazermos face às nossas dificuldades. Coragem e frieza. Mas uma coisa é o desespero e são as dificuldades, outra bem diferente a loucura completa numa cabeça senil que resvala para a chantagem mais reles: não faz sentido que seja Soares, logo Soares, uma vez mais Soares, a ameaçar Passos, porque é do que se trata, recordando-o das ameaças e dos riscos à sua integridade física por executar uma política cuja margem de manobra para conservar tudo como está, por exemplo, o financiamento às fundações do Regime, não deveria existir. «Passos que se cuide! Deixe de ser Primeiro-Ministro e salve a própria vida», parece dizer esse Poço de Isenção e de Virtude, Soares, «Passos que se cuide!». Ora, se um tresloucado efectivamente lhe enfiar um par de balas nos cornos, toda a gente dirá que Soares, benevolente e compassivo, avisou. Eu direi que instigou.

Comments

Grego said…
Se me é permitido, gostaria de observar apenas o seguinte: com tantos paranoicos, esquizofrenicos e tresloucados à solta neste país, só pode ser natural a insanidade dos nossos políticos.
Anonymous said…
“A CGTP concentra-se em reivindicações políticas com menosprezo dos interesses dos trabalhadores que pretende representar” Mário Soares à RTP, 1 de Junho de 1984 (...) “A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente àdemocracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.” Mário Soares à Der Spiegel, 21 de Abril de 1984

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