INSOSSO E INSANO


Se sempre que eu escrevesse fosse defender uma agenda de interesses qualquer:
por exemplo, nunca falar de A ou do partido A,
nem fazer encómios nem fazer críticas desnudadoras de B ou de C,
mas ir sugerindo a bondade de B para inculcar benevolência por B nos leitores,
se eu tivesse agenda, abster-me-ia de me pronunciar sobre esta matéria,
tal como faço em relação a todas, isto é, distribuindo pancada por quem a merece
sem olhar a quem, sem abstenções de espécie nenhuma, e à direita e à esquerda,
segundo a lei do bom senso e do senso comum iluminado pela transparência
e a naturalidade da verdade, pela autenticidade de se ser tal como se é.
lkj
esse divórcio num estalar de dedos de um dos conjuges.
A Igreja a que pertenço pode aplaudir o Veto Insosso do Presidente
em nome aparente dos valores que eu assumo ou vejo como altos referenciais para todos,
mas a prática e a realidade gerais revelam outra coisa e outras, crescentes, dificuldades
que não podem ser descuradas, sendo a violência, a chantagem e a depressão três delas.
lkj
Agora que o cerco destrutivo da família é o principal fruto e consequência da Lei Laboral,
dos códigos laborais de negra espécie, muito bons para a discricionaridade de Patrões,
agora que insanidade e maldade puras significa, por exemplo,
permanecerem os professores e os alunos presidionalmente na Escola
a encherem-se de currículo oco, de tédio, e por mais horas do que efectivamente em casa
entre mãe, pai e irmãos, separando e cavando fossos relacionais,
esfalfando-se por sua vez os pais, por horas infinitas,
para ganhar uns míseros quinhentos euros que sabem a sangue,
não me venham falar dos valores da família.
Que família?! A família que se esfarrapa, se arrasta e definha no turbilhão
das dificuldades que políticos insensíveis, empresários desumanos e insanos
lhes prescrevem?! Mas vocês pensam que há em Portugal
quem se comporte socialmente como a sueca IKEA com as suas empregadas?!
lkj
Por isso o divórcio indolor, que muitos dizem que não existe,
ou divórcio unilateral, pode e deve ser defesa e recurso de muitas pessoas algemadas à Lei
tal como o casamento unilateral não faz qualquer sentido por muito que se prolongue.
lkj
Se a Igreja cumprir o seu papel evangelizador,
enformador dos valores profundos de uma Fé sublime,
da família solidária, coesa e estável no sacrifício recíproco e no serviço recíproco,
da vida pacífica e laboriosa, da sensibilidade ao contexto do outro-seja-ele-quem-for,
à sua história, às suas dúvidas, rebeliões e mágoas, humanizando a vida,
o mais natural é que muitos mais vivam o milagre do casamento em Cristo
que não tem nada a ver com o casamento
com festa, boda, Igreja, dívidas subsequentes e sobretudo o quase certo divórico
a curto prazo subsequente. A Igreja está cheia de casamentos de paródia,
de casamentos da pândega, coisas formalmente perfeitas que malogram
pouco tempo depois. Importava que realmente ela conhecesse
de que cidadãos e pessoas do século XXI estamos a falar.
O século XX amordaçado, dos prisioneiros do casamento,
do preconceito social do casamento e do não casamento,
das sovas e mortes dentro do casamento, já passou.
O tempo de comer e calar já deveria ter passado.
ljkh
Gosto muito dos valores e dos princípios que se pressupõem no Veto de Cavaco,
mas prefiro vê-los salvaguardados e vividos pelos que de facto conseguem vivê-los,
não porque alguém os prescreve ou consagra na lei para todos.

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