A L. PALOMINO E A B. REYES


À flor da caatinga, do outro lado da portada,
há uma árvore, só na flor da luz do dia habitada por aves cor-de-fogo no peito, negro dorso.
Meu sogro, caçador primoroso, um certo dia amou que vivessem.
Deixou de matar o que voe, que as penas fluam, comovam e flutuem e ai de quem!
Frugivoravam elas o mamão, a manga, a pinha, a acerola, ruidosamente, em disputa.
Sentava-me eu muitas vezes, na penumbra da sala, encostado à parede antiga
para melhor as observar em algazarra,
como a um quadro redivivo com divino no rebordo.
Entrava tanta luz por esta portada brasileira!
E a baforada de calor era-me tão delícia sobre a delícia.
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É que agora tu, Palomino, intacta do inferno e sã e salva,
vocês tocaram-me ambas, bem por dentro, no que assombrosamente ao mundo narraram.
E, depois de ler, eu fui certamente outro dentre os que, com pasmo, se entreolharam
pela causa de estardes vivas e, compreendendo tudo com o coração ferido,
fui, dentre eles, alguém que também chorou e chorou.

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