DA IMPOPULARIDADE DO INTELECTUAL
Enquanto a República colapsa e se brinca com coisas sérias, não sei se «com um ralhete e um pequeno esforço, os portugueses, que em trinta anos de democracia, deixaram o país numa "situação explosiva", põem [tão facilmente assim] a casa em ordem e até, de caminho, "recuperam o valor da família"» O mais certo é continuar a luta de galos e assistir-se ao espectáculo de um boçal na linguagem ser muito mais popular, inteligente e eficaz que o intelectual e o economista no que mais importa. Há um País repleto de território, benefícios e riquezas, cheio de oportunidades e saídas chamado Brasil. Por cá, falta somente honestidade, uma estratégia, um desígnio, um Povo acordado: «Imagine o senhor, ou a senhora, que o Presidente da República, o seu Presidente da República, lhe resolvia fazer o seguinte discurso: "Nós não controlamos as intempéries. Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tem alguma coisa que a humanidade não controlaria. Uma delas era as intempéries. (...) Dá um terramoto, o Japão faz casa de borracha, faz casa de papel. Aqui no Brasil faz piscinão piscininha. (...) A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva. Sabe que quando vem tudo o que a gente bolou escafedeu-se. Então, essa questão do clima é delicada, porque o mundo é redondo. Se o mundo fosse quadrado ou rectangular e a gente soubesse que o nosso território está a 14.000 quilómetros de distância dos centros mais poluidores, torce para ficar só lá. Mas o mundo gira e a gente também passa lá em baixo onde está mais poluído. A responsabilidade é de todos."» VPV
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Poema do Boi da Paciência Português
‘Meus amigos, que desgraça nascer em Portugal!...’
Boi da paciência, que sempre reencontro,
amo-te, e detesto-te até ao vómito.
Quisesse afagar-te os vis corninhos,
e ririas melífluo, como quem padece coceguinhas.
Conheço-te bem demais, engenhoso atávico ruminante!
Conheço e reconheço ‘teu minucioso e porco ritual…’
E ainda aí estás, a ti igual: Anos 0, anos 60.
Marras agora, como já antes marravas,
no tempo em que te detectaram O’Neill e Ramos Rosa.
Pronto resmungas, desmaias, fazes que desfaleces;
como em derriço; como se te sorrisse um incisivo.
Deixa-me que te diga: Com os 60, que conto, na passagem,
já não estou pra ti virado.
Mas, se esse é teu melhor gozo, envolve-me de blandícias,
revolvendo-me p’lo bandulho.
Estou farto.
Desafias-me a que nem a relance te suspeite.
Tal nojo me mete a tua baba.
Tais emboscadas tramas a poético transporte, meu tesouro.
Cerre os dentes firme, Cego A Alta Luz.
Que aspiras ’inda, mansarrão?
Abre os olhos e vê:
Esses não são já os melhores dias.
Ateimas ’inda?
Continuas, boi boizinho?
Pertinaz aderente,
sei que só sumirás quando, por mim, me der o fora.
Espera sentado,
que vou ali e já venho.
Ângelo Ochôa
in
http://informaticahb.blogspot.com/2010/01/o-poeta-angelo-ochoa-volta-surpreender.html