ENTRE O AFECTO, A MORBIDEZ E A HISTERIA
Um dos reflexos mais terríveis da morte trágica de Angélico, tal como acontecera com a de Francisco Adam, para além das circunstâncias demasiado similares, diz respeito à exposição do que realmente move a sensibilidade das massas em Portugal. A beleza, a classe, a arte, o talento, move-nos. Mas é pouco e serve-nos de pouco. Uma mobilização emocional intensa das pessoas sucede a propósito da morte de um jovem artista sexy e esse acaba por ser um capital espiritual desperdiçado perante o bem que se poderia fazer todos os dias a tantos seres humanos realmente necessitados. Trata-se de algo preocupante que se viva demasiado no mundo dos concursos e no das novelas, no delíquio do Belo e do Bom tantas vezes nem bom nem belo nos planos moral e ético, ao ponto de que uns e outras absorvam mais energia psíquica, mais interesse e mais curiosidade mórbida que talvez o trabalho, a economia do País ou mesmo a política, a qual, conforme alguém ironizou «é demasiado importante para ser deixada aos políticos». Adam e Angélico, estrelas mediáticas nacionais, não se despistaram somente, pagando um alto preço por isso ao sacrificar a própria vida e a de outros. Não. Vieram expor a grande susceptibilidade de um grande número para o estranho despiste emocional em decurso. Por vezes histérico. Por vezes mórbido. Ora, contrastando com isso, por que motivo jazem represados tanto Amor e tanta capacidade e vontade de fazer Bem a quem precise?
Comments
jorge
Tenho para mim que mais "circenses" do que as telenovelas só mesmo o futebol.
Por isso não me supreende esta reacção do povinho; afinal, é disto que gostam, é disto que é feito o seu dia a dia, é isto que os move.
Amanhã já nem se lembram.
Virginia