EVITEMOS A IMBECILIDADE OBSCENA

«'OBSCENA DICTA' Para os clássicos latinos, os obscena dicta eram palavras de mau agouro. E de mau agouro, por isso mesmo obscenae, também o eram as aves do monte Aventino que tinham aparecido a Remo (mons avibus obscenis ominosus). É esse o caso das arengas de José Sócrates: são uma perfeita obscenidade política (obscenus significa também impudico) e seria uma obscenidade de muito mau agouro que tivessem algum resultado significativo no próximo domingo. Votar PS seria portanto uma imbecilidade obscena e funesta do eleitorado. Portugal não pode ter um Governo que, além de obscenamente incompetente, escamoteie as obrigações negociadas com a troika e assumidas perante a comunidade internacional. Dessas obrigações e do que significam, o PS, o seu líder e os seus aflautados tenorinos nem falam. Nem da bancarrota. A propósito da situação obscena em que o nosso país se encontra, um grande amigo recordou-me um passo de Almeida Garrett na sua Memória Histórica de Mousinho da Silveira (1849). Fui verificar. Falando de recursos desgraçadamente malbaratados em actos estéreis, o autor das Viagens acaba por nos dar um retrato que parece acabadinho de tirar à situação portuguesa actual: os empenhos "aí têm crescido de juros em juros, de fatais em fatais operações, até chegarem a ser, como hoje são, o pesadelo de ferro deste desgraçado país, que o não deixa, nem deixará jamais acordar do seu torpor mortal. Porque, sue ele quanto sangue tem sob a pressão dos tributos, não dá nem pode dar bastante para pagar os juros da dívida e acudir à despesa corrente"Entretanto, foi revelada a existência de um segundo documento reportado ao Ecofin, a encurtar drasticamente o calendário de várias medidas negociadas com a troika. Aquelas que terão de ser tomadas até ao fim de Julho (e mesmo as outras de vencimento próximo) não poderão sê-lo pelo novo Governo em cumprimento desse calendário se não forem devidamente preparadas pelo actual. A razão é simples e decorre da própria natureza das coisas: entre a contagem e a publicação dos resultados, a tramitação constitucional para formação do novo executivo, a posse deste e a sua entrada em funções, esgotar-se-á a maior parte do tempo útil para tal efeito. José Sócrates tem plena consciência da situação: meteu os pés pelas mãos e as desculpas matreiras e pouco consistentes que deu em público confirmam, pelo menos, que ele está dentro do problema e das suas implicações, mas indiciam que, mais uma vez, são de recear manhas grosseiramente arrevesadas da sua parte. É por isso de exigir que, ainda durante a campanha, o Primeiro-Ministro dê formais garantias ao povo português e ao Presidente da República de que a preparação dessas medidas está em curso e também de que a sua mais do que previsível derrota a 5 de Junho em nada afectará a adopção delas. Tem de ser assegurado aos portugueses que o Governo socialista está a preparar todas as alterações negociadas, incluindo as relativas ao contrato de trabalho, de modo a que a transição governamental se faça sem prejuízo do cumprimento do novo calendário, note-se, ajustado pelo Governo socialista sem qualquer intervenção do PSD e do CDS. E tem de explicar aos portugueses que serão tomadas todas as medidas e que é dessas medidas, que é exactamente das medidas que o seu Governo negociou com a troika e recalendarizou no Ecofin que derivará a reformulação assaz penosa de vários aspectos do nosso Estado social. Se o Governo socialista não o fizer, estará a colocar Portugal numa situação de incumprimento de consequências imprevisíveis e a contribuir para agravar ainda mais a bancarrota em que lançou o país. Mas disso, José Sócrates não fala. O seu silêncio nesta matéria é também uma obscenidade cúmplice. Talvez venha ainda a ameaçar baldar-se, como último meio de pressão sobre o eleitorado, ou talvez não esteja mesmo a fazer absolutamente nada para as medidas urgentes serem cumpridas a tempo. É preciso derrubar o actual Primeiro-Ministro, custe o que custar. E mesmo assim nada nos garante que, na oposição, essa ave funesta não continue a representar uma obscenidade de mau agouro para o nosso país.» Vasco Graça Moura

Comments

floribundus said…
o gajo anda a pensar na hipótese de receber 'guiua de marcha'
e estasse maribando na pocilga

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