Ó TOCADORA DE HARPA

Ó tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!,
E, beijando-o, descesse p’los desvãos
Do sonho, até que enfim eu o encontrasse.
kh
Tornando Puro Gesto, gesto-face
Da medalha sinistra – reis cristãos
Ajoelhando, inimigos e irmãos,
Quando processional o andor passasse!...
lkj
Teu gesto que arrepanha e se extasia…
O teu gesto completo, lua fria
Subindo, e em baixo, negros, os juncais...
lkj
Caverna em estalactites o teu gesto...
Não poder eu prendê-lo, fazer mais
Que vê-lo e perdê-lo!... e o sonho é o resto...
hgf
Fernando Pessoa

Comments

Anonymous said…
Iniciava-se na altura a recuperação da economia mundial depois do choque do petróleo de 1980/81, com a descida forte do preço do petróleo. Cavaco Silva, bem infomado sobre os ciclos económicos, viu que teria um período de vacas gordas para fazer figuraço, até porque Portugal se preparava para entrar na CEE e iria receber chorudos fundos comunitários.
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Cavaco Silva passou então a governar com três Orçamentos, o geral do Estado, o dos fundos comunitários e o das privatizações da banca, seguros, etc.
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Foi um fartar vilanagem, dinheiro a rodos para distribuir pela clientela, incluindo centenas de milhares de funcionários públicos. O despesismo estatal no seu melhor! Fez obras, sim senhor, incluindo o CCB, que era para custar 6 milhões de contos e custou 40 milhões, segundo se disse na época. O rigor cavaquista no seu melhor!
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Anos depois vem a guerra do Golfo, com implicações económicas fortes a nível internacional, e Cavaco Silva, prevendo período de vacas magras e já com ele em andamento, resolveu abandonar o barco e parar de governar e entregou o testemunho ao seu ex-ministro Nogueira. Este perdeu as eleições para Guterres e em 1996 iniciava-se a recuperação da economia mundial. Foi um bom período para Guterres, que continuou o despesismo de Cavaco Silva, já que este último tinha deixado o campo minado por sistemas automáticos de aumento da despesa pública, o MONSTRO cavaquista de que viria a falar Miguel Cadilhe, além de milhares de contratados a recibos verdes no aparelho do Estado, que Guterres teve de integrar nos quadros do Estado para não ter de mandar para a rua gente que há anos não fazia outra coisa senão trabalhar para e dentro do aparelho de Estado.
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Foi este o percurso do despesista Cavaco Silva, o que como ministro das finanças da AD aumentou num ano, pela segunda vez, milhares de pensionistas, e o que, como primeiro ministro, aumentou a despesa pública de tal ordem que os défices públicos da sua governação, se limpos das receitas extraordinárias, subiram tanto (chegou a 9% do PIB) que o actual défice das contas públicas é apenas mais um no oceano despesista inventado por Cavaco Silva nos longínquos tempos da AD e continuado nos tempos em que foi primeiro ministro, depois da recuperação heroica dos tempos de Mário Soares e Hernani Lopes, nos anos 1983-85.
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É neste despesista disfarçado de rigor que devemos votar para PR? Desculpem, se quiserem propor Hernani Lopes para PR, podem contar com o meu voto. Mas como ele não aparece a candidatar-se a PR, vou votar em quem o ajudou a salvar Portugal da bancarrota provocada pela AD de Cavaco Silva. E esse alguém é Mário Soares.
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Estes os factos. E eu voto em factos, não em mitos e miragens. Mário Soares tem um brilhante CV em controlo da despesa pública (governos de 1977/78 e 1983-85). Cavaco Silva tem um brilhante CV no descalabro das contas públicas.
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Qualquer economista, se intelectualmente honesto e conhecer um pouco da nossa História recente, rejeita liminarmente este embuste chamado Cavaco Silva. Se ele for presidente da República, como pode ele pregar moralidade económico-financeira quando ele foi e é ainda o pai do MONSTRO? Monstro que agora Sócrates se esforça por abater com as reformas profundas que está a fazer.
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Para os mais novos aqui fica a radiografia do embuste chamado Cavaco Silva.
Anonymous said…
COMO TUDO ACONTECEU...

Quando Maria de Lurdes Pintasilgo foi primeira ministra de um governo da iniciativa de Ramalho Eanes, antes de sair do seu posto resolveu aumentar as pensões sociais de certas camadas de pensionistas. Foi um aumento considerável.
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Sá Carneiro, na altura a preparar a AD, criticou fortemente esse aumento. A AD ganhou a seguir as eleições e foi para o governo, com Cavaco Silva em ministro das Finanças. Não tardou muito e fez novo aumento dessas pensões, o que fez com que num só ano essas pensões tivessem aumentado cerca de 45%. Começou aqui o descalabro despesista do Estado.
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Mas, como o preço do petróleo entretanto tinha subido muito, de 12$/barril, para perto de 40$/barril, e como Sá Carneiro faleceu no acidente de Camarate, e era depois Pinto Balsemão o primeiro ministro, Cavaco Silva, prevendo mau tempo no canal para a economia mundial e portuguesa abandonou o barco da AD e recusou ser ministro do governo de Balsemão. Este ficou amuado e com o tempo se veria que nunca lhe perdoou este abandono do barco em pleno naufrágio.
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A AD, esfrangalhada por lutas intestinas e pela crise económica que levou o país à beira da bancarrota, acaba por perder as eleições em 1983 e dá lugar a um governo de salvação nacional presidido por Mário Soares, com Mota Pinto em vice-primeio ministro. Foi o governo do bloco central.
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Mário Soares teve de recorrer ao FMI para resolver a situação, com a ajuda do seu ministro das Finanças, Hernani Lopes. Em 1985 as contas públicas estavam recuperadas e o caso deu brado nos meios financeiros internacionais. Portugal passou a ser um exemplo de bom aluno do FMI.
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Mas esta recuperação das finanças públicas custou popularidade a Mário Soares e ao PS, que na altura fez outra grande reforma, a do arrendamento, matéria tabú para os governos anteriores. E o PSD, com Cavaco Silva, sobe ao poder.
Miguel Rocha said…
Mário Soares também foi muito rigoroso nas viagens, e outros tomilhos, que fez pelo mundo fora...
O problema não está no aumento da despesa pública, está sim no seu descontrolo e no peso que têm em relação ao PIB, e, por esses anos, esse cresceu bastante. Cavaco cometeu erros, encetou uma linha de desenvolvimento baseada nas obras públicas, isto é, na acção directa do Estado, que infelizmente ainda não foi cortada, bem pelo contrário. Se em 1985 bastantes dos investimentos em rodovia eram justificáveis, desde Guterres que poucos o-são.
Nunca votei Cavaco. Nunca votaria. Mas, querer fazer dele culpado por todos os males deste país faz-me perguntar porque não culpar Afonso Henriques por o ter criado? Cavaco deixou o cargo de primeiro-ministro em 1995. Desde aí tivemos 4 primeiros-ministros e 6 governos, que fizeram eles para alterar a situação? Nada! Ou pioraram (Guterres, Barroso e Santana) ou endoideceram (Sócrates).
Oiço e vejo várias vezes a defesa da intervenção e da não intervenção estatal na economia. O que posso dizer sobre isso? Eu sou a favor do modelo social-democrata dos nórdicos. Em Portugal só existe um problema para a sua plena implementação, de forma justa e eficiente: os portugueses. O seu "chico-espertismo", a sua coabitação com o compadrio, com o "amiguismo", com a corrupção, prostrados numa nova e velha burguesia, apoiada no Estado, leva-me a rejeitar um Estado forte, pois sinto e senti que ele só servirá para manter o "status quo" e não para proporcionar e garantir aos sues cidadãos a felicidade, a realização pessoal. a igualdade de oportunidades, a justiça social e civil que é devida. Pelo contrário, o Estado foi assaltado por esta burguesia que usa-o para os seus proveitos pessoais. Desde o funcionário público ao desempregado ou RSI que não faz um pevide (quem não conhece pelo menos um??) ao empresário que com favores pessoais factura milhares a milhões, tudo à custa daqueles que realmente trabalham e produzem.
Estado forte?? Não, obrigado. Ele deve, isso sim, garantir que todo e qualquer cidadão, independentemente da sua condição económica, lhe vê garantido com qualidade direitos essenciais: saúde, educação, segurança e justiça. A oportunidade e os meios para conseguir, fruto do seu génio e trabalho, o alcance de uma vida feliz.
Miguel Rocha said…
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. […]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro […]

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. […]

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;"

Guerra Junqueiro, "Pátria, 1986.

O passado e a história mostra-nos que o esquema de hoje é recorrente. Estado forte?? Não obrigado. Seria caso pra dizer: Estado?? Não obrigado. Mas eu tenho pouca fé no espírito dos homens. Para este belo pedaço de terra mal frequentado deseja-se um Estado pequeno na Economia, para moderar e eliminar apetites vários. O seu poder fiscalizador basta (tendo em conta os ideais de justiça e "igualdade" que o devem nortear), a intervenção virá sempre em último caso.
MR said…
Não, obrigado. Tenho pena é de não ver os nosso políticos discutir estas questões. Como mostrava o Jardel cada vez que facturava pelo Guaraná: porque será?

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