CHOQUE EMIGRANTOLÓGICO — UM PAÍS A RENEGAR
Se não é, parece. Torna-se claro que não foi Passos a inaugurar o discurso da debandada, sugerido ou explicitado, apesar das pesadas implicações e da redobrada responsabilidade de tocado no assunto, dando aso ao escândalo dos mais probos pater familas, sentados no café, a imprecar sua excelência o PM com raiva: «Dizer aos nossos filhos que devem emigrar é sinal de fraqueza!» — dizem. Debandar de Portugal é o que é e tem a taxa avassaladora que tem, pois sair sempre constituiu intuição nossa de sempre, espécie de renegar pária da Pátria estéril e exploradora dos soldadores de Matosinhos (sobrecarregados e mal pagos) e dos operários de máquinas no interior Norte. Debandar à toa, por tentativa e tentação, de um sair raivoso surge novamente à tona, apenas porque a dignidade que se busca timidamente por aqui pode ser buscada de modo mais desabrido por lá. Aliás, quem fica, arrisca-se a converter-se noutra coisa: nesses raros aldeões velhos que foram ficando e ficando. Um dia destes somos eles. Com um dentinho em cima e outro em baixo, especados a ver chegar os estrangeirados.
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