PASSOS E AS FERIDAS DE PORTUGAL
A insistência na falta de confiança marcou o discurso de Natal que sua excelência o Primeiro-Ministro proferiu. O passado recente representou efectivamente o descalabro da confiança, com actores políticos marcados por desonestidade crassa, a confiança deixou de ser um activo público, deixou de representar um capital invisível, deixou de ser um bem comum. Se a mensagem do PS-Governo foi sendo cada qual por si, o Governo pelas Empresas que lhe subsidiam campanhas eleitorais, o Governo pelos cargos-prémio aos seus, o Governo pela mordaça maçónica colocada nas nossas bocas, na boca de corajosos denunciadores da injustiça de uma Governação de Favor, com Passos, a (des)confiança tem passado por medidas gravosas com a corda ao pescoço colocada em quase todos, menos nos que estão sempre por cima e para além de qualquer crise ou deriva austeritária. Podem ser tais medidas repletas de boas intenções e tomadas sob a pressão dos mercados, dos credores, das metas do défice, mas do estrito ponto de vista das promessas eleitorais e do pacto que elas representam com os eleitores, era necessário uma revolução copernicana na forma de fazer política em Portugal e Passos, contra o que seria suposto, não a fez. Não a representa. As nossas chagas alargam-se. As nossas feridas crescem. A confiança esboroou-se e deixou de colar os cacos nacionais, não mais determinante para o desenvolvimento social, para a coesão e para a equidade, aliás, palavras. Só palavras.
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