AOS BUROCRATAS DA MORTE, UM EPITÁFIO VIVO
Dedico este poema de Primo Levi aos burocratas da Morte.
A todos, burocratas cum laude.
A todos aqueles que increvem a Morte como avanço civilizacional,
a Morte como mal menor, desde que enquadrada na Lei
e sob performances não clandestinas.
Dedico-o aos Pedros Sales de este mundo, tão exactos como lâminas,
tão certos nisto como máquinas de gerir Carne no Açougue, ainda que humana.
Às Cristinas Ribeiro, aos Correia de Campos, aos José Sócrates
e a todos que nem meditam nisto nem têm pudor
ou alma para meditar nisto. Ó ocos e repetentes reprodutores
da velha receita, as minhas sinceras homenagens
ao vosso patamar de civilidade absoluto e brilhante, como Eichmann,
muito hábil a justificar-se com a engrenagem da obediência e da Lei
quando era o Crime o que supervisionava, geria e operacionalizava.
«Pelos frutos os conhecereis» aos caucionadores da Morte
como sistema legal de resolução legalizada
de um problema de Carne e Osso,
suma hipocrisia, simplificação absoluta:
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PER ADOLF EICHMANN
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Corre libero il vento per le nostre pianure
eterno pulsa il mare vivo alle nostre spiagge.
L’uomo feconda la terra, la terra gli dà fiori e frutti:
vive in travaglio e in gioia, spera e teme, procrea dolci figli.…
lkjE tu sei giunto, nostro prezioso nemico,
tu creatura deserta, uomo cerchiato di morte.
Che saprai dire ora, davanti al nostro consesso?
Giurerai per un dio? Quale dio?
Salterai nel sepolcro allegramente?
O ti dorrai come in ultimo l’uomo operoso si duole,
cui fu la vita breve per l’arte sua troppo lunga,
dell’opera tua trista non compiuta,
dei tredici milioni ancora vivi?
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O figlio della morte, non ti auguriamo la morte.
Possa tu vivere a lungo quanto nessuno mai visse:
possa tu vivere insonne cinque milioni di notti,
e visitarti ogni notte la doglia di ognuno che vide
rinserrarsi la porta che tolse la via del ritorno,
intorno a sè farsi buio, l’aria gremirsi di morte.
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Primo Levi
20 de Julho 1960
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