DIÁLOGO ECFRÁSICO

Olha, Manel, um comentário ecfrásico como este teu

a tão expressivo quadro faz de ti o mais perigoso dos 'ladrões de arte'.

O que lhe rouba e patetiza a espiritualidade

e a densidade simbólica, prosaisando dubitativamente

o que é afirmativamente sublime,

e o é para ti, claramente, não digo que não,

mas só no plano objectivo e objectual.

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De esse ponto de vista já o 'roubaste e capturaste'

numa leitura repleta de desvio, num desdém grotescizante, quase.
Se fosse eu o ecfrásico comentador, diria outras coisas

ao lado do que disseste, sobretudo a hipérbole do sofrimento

e a mensagem híbrida naquelas mãos cravadas

que se enclavinham, humanas, numa rebelião agónica

e ao mesmo tempo como que agarram, divinas, o Céu, apesar do negrume e para além dele,

como a um manto, para não mais O soltarem.