DESDITA DOS NAMORADOS


A foto está para um Grande Amor Fictivo como a actual Crise
para uma Grande Convulsão Social Real
e cuja eclosão talvez nenhum paninho quente possa abafar.
lkj
Os tempos não estão para grandes festinhas e beijos,
mas para toda a prodigiosa vertigem dos impossíveis.
Quer dizer, os casais fazem o que podem. Eu faço o que posso!
Mas depois o que vigora geral é a Crise que alastra insidiosa.
E a Crise determina muita compressão mental e emocional,
muita ruptura potencial, muita falência interpessoal.
Não consigo imaginar o pessoal deprimido pelo desemprego,
pela miséria das baixas remunerações,
pela retracção em pénis-com-frio dos serviços e dos benefícios públicos
e pelas bricandeiras governamentais com a Inflação Prevista e a Inflação Real,
a levar a rir este Dia dos Namorados. Não leva.
çlk
Depois há bruxas más. Rostos de má onda, mau augúrio, mau agoiro.
Quem olha para a Careta Rigorosa de Maria de Lourdes Rodrigues
e deita os olhinhos mais a fundo na sua treta legislativa atrabiliária,
nos atropelos inflexíveis dos seus (da Trindade Sinistra!) Despachos
ao nível da Avaliação de Desempenho com Cotas Fixas dos Docentes,
ao nível da Gestão e Autonomia das Escolas,
matéria onde o blogue Fliscorno tem rebentado a escala da boa diagnose,
compreende-se a incompetência e a malícia.
O trabalho ministerial tem sido isso: malicioso e incompetente.
Tanto se quer foder com as pessoas no mais curto espaço de tempo possível
que a sofreguidão e o atabalhoamento traem as mãos e os pés perseguidores.
Mesmo vozes tão suportantes disto voltam-se agora contra esta Trindade Iluminada.
lkj
Mas perante tudo isto e para o conjunto das malfeitorias éticas em decurso,
temos um Povo Manso que deseja ver outra coisa
e quer acreditar, com a crença mais irrealista e estúpida,
que tudo vai pelo melhor dos mundos possíveis.
A julgar por alguma juventude nédia e média com quem trabalhei e que conheci,
hoje com vinte e muitos anos, o cenário é o pior possível,
não porque sejam maus, mas porque são moles
e profundamente desprezivos da História, da Cultura, do Saber, da Verdade,
cultivando a mais preocupante e tóxica superficialidade.
Vivem perfeitamente felizes e alienados
com VídeoMúsica, VídeoJogos e VídeoCerveja
e deslizam pela realidade e os seus complexos problemas
como se deles ser conhecedor e neles investir reflexão
lhes fosse digno da mais perplexa comiseração.
çkk
Feliz Dia dos Namorados, se puderem.

Comments

Anonymous said…
Joshua, muito Obrigado por ter visitado o meu blogger, fique muito contente com seu comentario, espero que me visite sempre.
Abraço

Leonardo Cesar

http://esportes2008.blogspot.com
quintarantino said…
Carísismo Fellini, noutros tempos até tu tinhas aí projectado inocente, ou será que era malicioso, um olhar transversal e em grande angular aos olhos daquela menina ali sentada, logo seguido de uma fugídia passagem da tua cineastíca câmara pelas pernas larocas daqueloutra e por aí fora.

Hoje, sem que saiba porquê, vejo-te assim sorumbático. Bom, mas antes assim que serôdio. Digo eu.

Mas se pensares bem e olhares para os olhos da tua querida filha e da queridíssima e dulcíssima mulher, verás que encontrarás um oceano de serenidade, uma floresta de emoções e que sentirás em ti um fragor, um clamor a dizer-te que ainda é possível, que podemos e temos de acreditar.

E porque está um dia lindo, pega nelas e vai, vai ao menos passear à beira mar que o tens belo à beira de casa!
Joaninha said…
Tirano,

Eu cá tenho um bad feeling acerca do estado geral deste pais. Sabes aquele sentimento estranho não identificas o que é mas algo muito mau vai acontecer e não está muito longe.
Só espero estar redondamente enganada.
Mas tenho sempre um tempinho e um pouco de alegria para festejar o dia dos namorados:)
Juℓi Ribeiro said…
Querido amigo Joshua:

Primeiro peço perdão pelo meu enorme comentário.
Você me perdoa?
Estive afastada da blogosfera,
precisava repensar alguns aspectos de minha vida e ter esse tempo foi muito bom para mim.
Estou retornando de viagem,
para casa e para os meus amigos queridos.

"Para sempre" é um lugar que não existe...
Mas para mim o dia dos namorados é sempre especial.
Porque eu sou uma eterna apaixonada pela vida.
Sou uma espécie em extinção.
Faço parte do partido dos Românticos e esse partido de vez em quando se (...)
(Risos...)
Para mim não tem crise que faça com que eu não comemore o dia dos namorados.
Mas sinto que você tem razão
e sei que muitos relacionamentos são destruídos pela falta de segurança financeira.
Nem todos conseguem ser fortes
e não se abalar com esta situação.
Já vi casamentos serem desfeitos.
O principe encantado e a Amélia(aquela que era mulher de verdade)
estão aposentados e o pior seus seguidores estão desempregados
ou lutando muito para não perderem seus empregos.

Carlos Drummond de Andrade
escreveu:

"O pagamento"

Quando é que sai o pagamento?
O pagamento está difícil.

Quando se fará a folha
e se construirá a máquina
que fará o cálculo e os descontos?

E quando se fabricará o dinheiro,
espécia nova de dinheiro,
para fazer o pagamento?
Quem receberá no primeiro lote
quem no segundo e no terceiro
se antes de tudo vier a morte
poupar serviço ao tesoureiro?

O pagamento será difícil.

A espera, quem é que paga a espera
e os extraordinários da esperança
e os serviços (esquecidos) dos pais
e dos avós e dos antiquérrimos?

O pagamento está difícil.

Que contador porá em dia as contas
e qual será o seu critério?
Irá medir produtividade
assiduidade, pequenos méritos
oblíquas faltas, imperfeitos
serões, tarefas de má vontade?
Só sairá o pagamento
depois do inquérito concluído?

O pagamento está difícil.

Nem um simples apontamento
foi tomado, não há controle
e direção?
Ou não houve serviço nunca,
ninguém jamais se empregou
nem patrões existiram nem
saíu produção de nada?
Não houve encomenda de nada
na fábrica inexistente,
e ninguém podia tomar nota
alguma em nenhum escritório?
Não cabe pois reclamar
nem salário nem horas extras
nem demora ou juros de mora?

O pagamento está difícil.

Difícil é o pagamento
ou conceber a estranha folha
que nunca sai
e saindo, não se registra
e registrada, não se paga
e pagando, não vale a cédula
e valendo, o vento a carrega
e carregando, foi bem feito
se não havia o que pagar?

O pagamento está difícil
ou já foi feito antes de tudo
há 40 anos, à sorrelfa
que ninguém lembra ou se acaso lembra
é que o dinheiro era falso
era marcado era maldito
era por todos refugado?

O pagamento está difícil?
Depois de tão anunciado,
solenemente prometido,
foge o caixa, são massacrados
os condutores do dinheiro
tudo é furtado num segundo
e o próprio assalto é simulado?

Some a idéia do pagamento
de tal sorte que niguém mais
lhe conhece o significado
e o que reclamam não reclamam
com intenção de receber
mas por força do triste hábito?
e tornam-se mudos
de voz e gesto
e se esquecem todos
de reclamar e de adiar
e de negar?

Então, de todos olvidado
não mais pensado ou referido
nem na lousa dos dicionários
o pagamento - afinal - saiu.
Para cada um e seu irmão,
seu amigo e seu inimigo,
seu desconhecido, seu antípoda,

seu ascendete e descendente,
seu curió demissionário, seu gato escaldado, seu cachorro caduco,
suas plantinhas de vaso (sem sol) da janela,
seu coração
de válvulas paradas
seu coração
entranhado de cisco
seu coração
já sem forma de
coração.

O pagamento total geral
saiu! saiu!
o pagamento sem escrita
sem cifrão
sem limitação
sem explicação
sem razão
sem código
sem termo
saiu.

Não havia quem recebesse.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

Mais sobre Carlos Drummond de Andrade em

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade)

Deixei lá no meu blog
uma coleção de selos premiados para você.
Se for do seu gosto fica com eles.
Te repasso com muito carinho.
Um abraço carinhoso e sincero
de sua amiga de além mar.
Beijo.

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