UM ANO DE IGNOMÍNIA
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«O referendo do aborto foi há um ano.
Participei na campanha e fiz parte dos vencidos.
Participei na campanha e fiz parte dos vencidos.
Escrevi então que há derrotas que nos honram.
O referendo mostrou, sobretudo do lado do "não",
a força de movimentos independentes dos partidos,
saídos da sociedade civil e dispostos a bater-se por causas.
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Um ano depois, é possível fazer um balanço?
Entre 15 de Julho e 31 de Dezembro de 2007,
Entre 15 de Julho e 31 de Dezembro de 2007,
realizaram-se 6099 abortos legais.
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Cerca de metade do que diziam os defensores do "sim" mais moderados,
com base em estudos, estatísticas e projecções muito lá de casa.
Era previsível e foi previsto.
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O aborto clandestino, principal argumento para alterar a lei,
não desapareceu. De acordo com o Público,
"no primeiro semestre de 2007,
nos 40 serviços que forneceram dados,
contaram-se 933 internamentos por complicações de IVG
não admitidas no quadro legal".
Esperemos pelos números do segundo semestre.
Mas era previsível e foi previsto.
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Sócrates, o grande vencedor da votação,
usou-a como prova de vida do seu defunto esquerdismo.
Enquanto fechava maternidades e urgências por todo o país.
Uma ironia que era previsível e foi prevista.
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E ainda conseguiu meter o Bloco de Esquerda no bolso.
E ainda conseguiu meter o Bloco de Esquerda no bolso.
Sem bandeiras fracturantes para agitar,
a rapaziada despareceu do mapa e só levantou cabeça com o regicídio.
Também era previsível e foi previsto.
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Um ano depois, o "sim" deu um Ministro da Cultura ao Governo,
António Pinto Ribeiro, célebre pelo argumento
"um ovo não é um pinto e não tem os mesmos direitos".
Por esta é que niguém esperava.
(Sempre pensei que o lugar fosse de Lídia Jorge,
(Sempre pensei que o lugar fosse de Lídia Jorge,
a revolucionária teorizadora da "coisa humana".
Não se pode acertar sempre.)»
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Pedro Picoito, O Cachimbo de Magritte
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