REPÚBLICA, MAS POUCO E QUASE NADA PORTUGAL


A República foi uma experiência assanhada. Veio com o sangue derramado.
Trouxe opressão, trouxe duplicada violência e anarquia.
Depois serenou, disciplinou-se, urbanizou-se, encheu-se de brios.
Depois viu a flor da democracia chegar com as suas ilusões e os seus oportunistas
Foi caminhando por aí até chegar em farrapos aos nossos dias.
Vai-se falando agora das obscenidades e das injustiças que perduram:
o que se paga sumptuariamente a uns e se não paga dignamente a outros.
Da riqueza que não se distribui decentemente, das remunerações iníquas ou obscenas.
Da Injustiça e da Impunidade dos detentores do Dinheiro e da Influência Mediática.
Dos processos mediáticos que se arrastam Casa-agonizadoramente-Pia.
Da corrupção que permeia a actividade política da qual incomoda que se fale.
lkj
A República não galvaniza. Ninguém sob a República é de facto republicano.
A Arte de Pilhar Portugal e de delapidar a moral e o orgulho nacionais
aprimorou-se sob a República. A República não fez por nós melhor
que a Monarquia Castelhana por Espanha em pouco mais de trinta anos.
çlk
Podem sorrir e minimizar o movimento monárquico actualmente,
mas uma coisa é justo auspiciar como provável ironia histórica:
que talvez apenas nele resida o último reduto da nossa indentidade coesa restaurável,
com o Rei como um ponto humano de referência essencial de Pai Acalentador de Todos,
e isto ainda mais célere, caso persista e se agudize
a sensação presente de que, na verdade, ninguém vale ao Povo,
de que as chamadas Elites Decisórias o substimam e passam bem com a indigência
a que na verdade o remetem, sonegando-lhe uma vida digna,
consentindo que, em 27 países, somente Portugal vá pior
na distribuição da riqueza,
como se fosse a coisa mais natural do mundo.
E isto, se a Política e a Economia continuarem sob as jogadas de xadrez da mentira
e do jogo de sombras dos Poderosos, movidos por estrita ganância,
continuarem sob a manipulação informativa dos grandes passes hipnóticos
em que a notícia faz esquecer a notícia que faz esquecer a notícia,
fazendo que o Relevante se mitigue e adormeça de Nulo,
embalando o Povo de alienação desinformada em alienação alheada.
lkj
Como não sou jogador de futebol nem beneficio de cunhas e cargos por deferência,
e por isso mesmo não posso limitar-me à frieza racional e distante
de que tudo vai pelo melhor dos mundos possíveis,
ou àquele cinismo de que aquilo que não me afecta não existe,
resta-me o direito à indignação, à fúria, à insatisfação sincera vertida em Poema,
a maior, mais cortante, mais perfurante e explosiva Violência Insurgente e Fermentosa,
(para mim tudo é Poema e o Mundo da Ganância Presente uma Injustiça Consentida!).
lkj
Resta! Resta-me o direito à indignação por tudo isto,
tal como está, para mim e para quem, de tão em baixo,
só tem a mudez inexpressiva, alheada e inconsciente
como derradeira manifestação de si, pelo anulamento,
afinal, o pior e mais excruciante dos gritos.
lkj
Comemorar este Dia e a morte indecente de este homem
terá de ter o devido significado
e constituir Justa Memória projectada no Futuro.
OJ
LKJ
Na Universidade Católica, Rui Ramos citou uma expressão de D. Carlos.
O rei, numa carta, explicou que chefiava uma "monarquia sem monárquicos".
Nos dois últimos anos de vida, com João Franco,
D. Carlos desejou um regime decente e o fim do "rotativismo".
Republicanos e membros dessa "monarquia sem monárquicos"
conspiraram para que isso não acontecesse.
çlk
Falharam o golpe de 28 de Janeiro.
Decidiram-se pela eliminação física, faz hoje cem anos.
Estamos, vai para um século, em república.
A 1ª, manifestamente, não foi um regime decente.
Foi uma reles ditadura.
O Estado Novo repôs alguma decência nas coisas,
todavia perdeu-se no tempo e no Ultramar.
Não acabou decentemente.
lkj
Agora vivemos sob uma república
que pretende comemorar-se a si mesma daqui a dois anos,
dirigida por gente que anda sempre com o credo da "ética republicana" na boca
e com demasiado lixo escondido nas algibeiras.
Tal como D. Carlos velava por uma "monarquia sem monárquicos",
nós vegetamos numa república desprovida de ética republicana.
Este já não é um regime decente.
lkj
João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos
lkj
«Em que assentaram então os regimes políticos anteriores ao actual?
Todos se propuseram modernizar o país.
Mas uns tentaram chegar aí reservando o poder a um pequeno grupo iluminado,
com exclusão dos demais, e outros através do envolvimento consensual
do maior número e da alternância no poder.
lkj
A monarquia constitucional, entre 1834 e 1910,
esteve neste segundo caso.
Havia vários partidos, que rodavam no poder de acordo com o rei.
O regime caiu porque não podia funcionar sem se pôr em causa a si próprio.
Era o rei quem, perante o desprestígio das eleições,
accionava a alternância.
Mas quando o fazia era invariavelmente discutido e contestado
por uma classe política sem reverência dinástica.
lkj
Mesmo assim, o regime durou mais do que qualquer outro regime
nos últimos 200 anos, e assegurou a mais longa época de liberdade e pluralismo.
Eis o que representa D. Carlos.
lkj
A chamada I República, entre 1910 e 1926, e o Estado Novo, até 1974,
tiveram isto em comum: chefes de Estado eleitos (directa ou indirectamente)
e governantes determinados em usar a força
para impedir qualquer alternância no poder.
O Partido Republicano não precisou, como Salazar,
de censura nem de proibir partidos:
preferiu recorrer à "acção directa" de grupos paramilitares,
protegidos pelas autoridades, para limitar a expressão
e a acção dos adversários (foi a célebre "ditadura da rua").
lkj
De resto, excluiu a população do processo político,
negando o direito de voto à maioria.
Houve republicanos e salazaristas que quiseram outra coisa? Houve.
Fizeram coisas benéficas para o país? Fizeram.
Mas nenhum dos dois regimes foi capaz de deixar de ser o despotismo de um bando convencido de que tinha o monopólio da razão.
lkj
A construção da actual democracia em Portugal foi feita
não apenas contra o Estado Novo, mas também contra a I República.
Dependeu de uma nova cultura política,
em que se admitiu o princípio de que a validade das eleições
dependia mais das instituições
e procedimentos do que das "qualidades" da população.
Dependeu também de se ter voltado a reconhecer novamente,
como no tempo da monarquia constitucional,
que a razão é algo distribuído a mais de uma opinião ou partido.
Obteve-se assim um regime aberto a todos,
e em que o voto de todos é a base da alternância no poder.
lçk
Os exclusivismos, porém, deixaram herdeiros frustrados.
Há quem ainda não tenha percebido
por que é que não é dono desta democracia,
tal como o PRP foi dono da I República
ou os salazaristas do Estado Novo.
çlk
Eis o que representam os contestatários da comemoração de D. Carlos.»
lkj
Rui Ramos, in Público

Comments

Patrícia Grade said…
Sabes, era para escrever um post sobre os 100 anos do regicidio... mas depois li-te...

Não há nexexidade de acrescentar seja o que for, a não ser que à época estávamos até muito avançados... quando noutra altura tivemos conspirações homicidas a tão alto nível?
Nunca mais fomos os mesmos, a partir daí tudo o que se seguiu foi de um nível infinitamente mais miserável!
Joshua
Concordo com tudo o que aqui dizes mas a democracia tem donos. E de que maneira!....
Abraço
quintarantino said…
Cambada de saudosistas que vós me saísteis... embora, eu confesse que ali com a Marquesa ... marchava!
Tiago R Cardoso said…
pois eu sinceramente gosto da republica, o problema é que o sistema que temos neste momento precisa urgentemente de uma reformulação antes que caia por terra...
Joshua,

Obrigado por suas palavras ao visitar meu blog, agradeço muito, estou fazendo minha primeira visita ao Tiranosavrvs Rex e já estou achando muito...como dizemos no Brasil..."muito legal"...
Os questionamentos sobre as nossas Pátrias são muito importantes, no meu blog, faço alguns comentários políticos e sobre acontecimentos do dia a dia da minha região e do Brasil, como também, poemas próprios e de outros autores, por isso, lhe convido a enviar-me escritos seus que queira que eu publique em meu blog, me honraria muito.
Meu e-mail é alnaryrocha@gmail.com
Um grande abraço
Alnary
antonio ganhão said…
Não temos ainda o devido afastamento critico...
Há sempre quem pretenda novos recomeços. É que certos mitos, mesmo após constantes fracassos, julgam-se no direito de insistir. A república - no pior sentido do termo-, falhou. Vá-se embora e depressa, porque a alternativa é a monarquia espanhola.

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