ASSIM SE ESCOAVAM OS DIAS

Quiseste divertir-te.
Foste aos bailes da Ópera.
Estas alegrias tumultuosas gelavam-te logo à porta.
Aliás, sentias-te retido pelo receio de uma afronta pecuniária,
imaginando que uma ceia com um dominó provocaria despesas consideráveis,
era uma aventura arriscada.

Parecia-te, no entanto, que deviam amar-te.
Por vezes, despertavas com o coração pleno de esperança,
vestias-te cuidadosamente como para uma entrevista,
e davas em Paris voltas intermináveis.

Perante cada mulher que caminhava à tua frente,
ou que avançava ao teu encontro, dizias para contigo: «Cá está ela!».
Era, sempre, uma nova decepção.
A ideia da Senhora Arnoux fortificava estas cobiças.
Talvez a encontrasses no caminho;
e imaginavas, para abordá-la, complicações do acaso,
perigos extraordinários de que a salvarias.

Assim se escoavam os dias,
na repetição dos mesmos tédios e dos hábitos contraídos.
Desfolhavas brochuras nas arcadas do Ódeon,
ias ler a Revista dos Dois Mundos para o café,
entravas numa sala do Colégio de França,
escutavas durante uma hora uma lição de chinês
ou de economia política.

Todas as semanas, escrevias extensamente a Deslauriers,
jantavas de vez em quando com Martinon,
vias às vezes o Sr. de Cisy.

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