MUDAR PARA MELHOR
Se o Povo quiser mudar de ares, se tiver um gesto de reprovação democrática do torpe e traiçoeiro caminho seguido até aqui [mais corrupção que progresso, mais desigualdade que justiça], escolherá a Monarquia por aclamação, mal tenha a oportunidade para se pronunciar e a lucidez para se pronunciar.
A mim nada me repugna mais que saber estar a pagar, mesmo no ápice da minha pobreza e a de milhões, as pompas dos soares, as mordomias dos sampaios, sendo que cada vez que um presidente se torna ex-presidente transforma-se em ónus e despesa duplicada, triplicada, ao depauperado Erário, depois de uma vida de partidarização e favorecimento descarado à sua facção.
Excluo deste rol Eanes porque foi o único abnegado, apartidário e por isso digno dos ex-presidentes: recusou as prebendas que a elite política engendrou para si mesma, uma vez fora do activo.
Um Rei é livre. Não tem nem pode ter facção. Serve somente Portugal por quem dá a vida durante toda a vida. E se há coisa de que Portugal vai necessitar neste século é de Liberdade: um sentido de independência mais vincado e mais forte, dada a aglutinação federalista de fortes sobre fracos nesta União Europeia Frankenstein.
A Democracia é fantástica porque permite precisamente mudanças em paz, transformações serenas. Acomoda abstenções massivas e humilhantes na eleição de sucessivos governos e autarquias, com quase metade das populações a abster-se do exercício democrático do voto, direito que custou muito sangue a adquirir, mas permite que o mesmo Povo, em protesto abstémio no voto de governos, parlamentos e autarquias, se pronuncie esmagadoramente numa questão que realmente lhe importe. A Liberdade. A Isenção e a Estabilidade do seu representante político máximo.
Os timorenses tiveram o seu Referendo Nacional. E foi a ânsia e o quórum pleno que se viram!
Nós ainda não tivemos verdadeiramente um Referendo ao Regime, que aliás nos traiu porque depois de nos ter dado a cenoura das liberdades e garantias nos sonegou o progresso, a riqueza, a justa distribuição dela, cavalgando-nos e explorando-nos.
Ai de quando pudermos dizer em liberdade qual a forma de Regime sob a qual queremos viver! Num Regime CleptoPlutocrático das Corrupções Protegidas e Comentadeiras na TV? Num Regime das bancarrotas sucessivas e sistémicas?! Num Regime com Justiça Dual, ricos-pobres, na mais completa falta de vergonha e de decência nesta desigualdade perpétua vergonhosa?!
Ou num Regime Democrático, Aberto, com um representante acima dos partidos, acima dos Bancos, acima dos Escritórios de Advogados da Capital, acima dos Juízes, acima dos Sindicatos dos Transportes, acima das Corporações Cartelizadas da Energia e das Telecomunicações?
Gostava de poder escolher. A República é linda, mas não nos fez nem faz felizes. Falhou. Temos o direito democrático à felicidade pela mudança a ver se desta vez, mudando, não falhamos.
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O assassinato de um Presidente da República Portuguesa
“O attentado foi urdido nas lojas maçonicas: provam-no documentos encontrados a um dos assassinos ... Estão nas cadeias centenas de democraticos que se banquetearam, festejando o crime infame. O povo lincha os que apalaudem a morte de Sidonio Paes… ”
Excerto de A Guarda, de 21 de Dezembro de 1918,
a propósito do assassinato do Presidente da República Portuguesa, Sidónio Pais.
Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais foi o quarto presidente da República Portuguesa. Esteve no cargo desde o dia 27 de Dezembro de 1917, empossado com origem num golpe de estado, mas, mais tarde, legitimado por sufrágio, até ao dia 14 de Dezembro de 1918. Aos dezasseis anos entrou para a Escola do Exército, tirando o curso de Artilharia, chegando rapidamente à patente de capitão. Ao mesmo tempo frequentou a Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, concluindo o curso em 1898. Nesta cidade seria professor catedrático de Cálculo Diferencial e Integral, na Universidade, e professor e director da Escola Industrial Brotero. Mesmo em tempo de Monarquia, manifesta-se republicano, fazendo parte da Maçonaria na Loja “Estrela de Alva”, em Coimbra, onde é conhecido por irmão Carlyle.
Quando se instala a República em Portugal, é eleito senador e faz parte do primeiro ministério constitucional após a eleição do presidente Manuel de Arriaga. Nesses primeiros tempos republicanos, assume as pastas dos ministérios do Fomento e das Finanças.
Em 1917, Sidónio Pais assume a chefia de um movimento revolucionário contra o governo democrático. Este movimento triunfa e depõe o presidente Bernardino Machado. Sidónio Pais é empossado como Presidente da República Portuguesa e passa a chefiar o país, segundo uma fórmula governativa, que tinha características de regime presidencialista. É a denominada “República Nova”. Apesar das conjuras que se esboçam por toda a parte, o novo presidente percorre todo o país e recebe entusiásticas aclamações em todas as cidades que visita. Nesta altura manifesta-se em Lisboa uma epidemia de tifo. Sidónio Pais percorre os hospitais a confortar os doentes.
Apesar de toda a sua boa vontade e espírito de pacificação, Portugal vivia um clima de paixões políticas exacerbadas. Nesta época conturbada, tentou reconciliar o Estado e a Igreja, o que provoca ainda mais a oposição dos partidos contra o sistema presidencialista. Na política externa as coisas também não estão melhores. A participação de Portugal na Primeira Grande Guerra atrai-lhe violentos ataques políticos. Após tentativas de golpe de estado e, entre atentados falhados, instala-se um clima explosivo na política nacional. A Maçonaria é conotada como inimiga do estado presidencialista. Os defensores da restauração da Monarquia, cessada poucos anos, ganham terreno. É neste clima que Sidónio Pais vai ao Porto tentando ganhar adeptos para a causa presidencialista. Quando embarca, na Estação do Rossio, em Lisboa, é abatido a tiro por José Júlio da Costa, um fanático, conotado com a Maçonaria, por alguns, ou com o Parido Democrático, segundo outros. Era o dia 14 de Dezembro de 1918 e acabava de ser assassinado um presidente da República Portuguesa, Sidónio Pais, conhecido como o Presidente-Rei.
Vejamos como esta cidade relatou o acontecimento. O jornal A Guarda, de 21 de Dezembro de 1918 noticia que … Eram 23,50 quando o snr. Presidente da Republica, de automovel, com os seus ajudantes chegou ao hangar exterior da estação do Rocio, onde uma companhia da guarda republicana… fazia a guarda de honra … Quando S. Ex.ª ia a transpor a referida porta, partiu do seu lado direito uma detonação. O snr. dr. Sidonio Paes voltou-se para o lado de onde partiu o tiro e recuou. A seguir partiram mais dois tiros e o sr. dr. Sidonio Paes, cambaleou e cahiu redondamente no chão… [ Foi levado para o hospital] … - Não me apertem muito, rapazes – dissera elle, ao ser levantado para sobre a meza. Pouco depois dos medicos examinarem as perfurações das balas, uma das quaes penetrou nos pulmões e outra interessou o fígado, o snr. Dr. Sidonio Paes tentou ainda levantar-se e disse ao alferes snr. Ferreira da Silva: - Morro, mas morro bem! Salvem a Patria… Exalou o ultimo suspiro dando se então varias scenas lancinantes e comoventes, que não puderam esconder a afflicção e as lágrimas…