O PAÍS, O ALARME E A IDOSA


A tarde ia amena. Uma horinha à beira-mar. Um café. Meus bebés ao colo, o seu sono e a sua fome de leite. Um pouco de sol e de maresia, de lazer e convívio. De passagem, bruxas, duendes e palhaços e a sensação de que muitas vezes o traje não mascarava, mas melhor caracterizava. Esquecer. Tirar do pensamento a percepção de que, politicamente, nenhuma verdade prevalece, nenhuma justiça se efectiva. Haver só céu azul e rostos tagarelando e sorrindo, aviões altíssimos cruzando os céus de sudoeste para nordeste. A tirania encapotada, um povo que prefere ser tutelado por chicos-espertos a outros desfechos experimentais, o controlo das fontes de independência institucional do Estado caricaturizadas pela forma de ir morrendo o processo Freeport, na boca prescritiva de Marcelo, ele próprio no fundo o grande mitigador do Sistema em todas estas coisas em que não pensamos ou não sabemos. Sair. Parar de pensar nisso e não conseguir. Sonho um Portugal mais justo que se envergonhe da indigência a que condena quem está fora das preocupações elitistas e interesseiristas do Poder desonesto só servil para com os seus clientes em corruptivas formas de actuação e privilégio. Desejo que a Verdade rasgue de par em par o apodrecimento da sociedade civil que o PS de Socrachávez patrocina. Uma espécie de Operação Valkyrie que nos restaurasse a vera democracia que esta tresanda aos fumos de tendencialite do Dr. Almeida Santos e ao devoracionismo parecerístico sugador do Dr. Júdice ou à bajulatrónix atitude delambida do Dr. Freitas. Sentir que um dia isto funcionava a bem de todos de todas as vezes. E que eu não continuava excluído. Pois. Tentei. E então, a minha hora à beira-mar transforma-se em duas. Na segunda hora, porém, um alarme automóvel soava a espaços. Numa fila interminável de carros estacionados, era impossível determinar qual. Entretanto, a minha hora transformou-se em três. Por fim, saindo da esplanada, pudemos ver que o carro cujo alarme soou ao longo de mais de uma hora tinha, no lugar do passageiro, uma paciente e constrangida idosa, relíquia deixada para trás. O vidro ligeiramente entreaberto explicava o automatismo da zoada. Petrificada, não gesticulava, impassível. Assim vai Portugal. Soa que grita o alarme de corrupção, de desonestidade, de completa falta de lisura nos nossos mais altos representantes, no presente, veja-se a treta-OCDE, o Magalhães show-off, as Linhas de Crédito na verdade amiguistas, anúncio e espectáculo como forma de governo, e, no passado, o que sabemos. Dentro, impotente, a idosa suporta o desleixo negligente a que é votada. Fora, quem até ali conduziu aquele País naquele automóvel que grita, deixa-se estar onde está. Barriga que se encosta ao bar. Alheamento que pode custar caro.

Comments

antonio ganhão said…
Como diz o prof. Marcelo, à sabedoria saloia temos agora uma esperteza urbana, baseada na sorte.
Anonymous said…
Foda-se que o homem nem com os rebentos ao colo consegue deixar de obsessionar um país!
... said…
O país divide-se entre os "chicos espertos" e os candidatos a "chico esperto"
http://aoutravarinhamagica.blogspot.com/2009/02/o-aspirante-chico-esperto.html

Popular Posts