EMPURRAR O PAÍS PARA A FOME
«Um pouco por toda a Terra, a Marcha Contra a Fome começou hoje na Austrália e está a angariar fundos destinados ao Programa Alimentar das Nações Unidas, a fim de minorar as carências dos povos mais pobres do mundo, onde todos os dias se morre por falta de alimentos. No Porto e em Lisboa, seis mil pessoas aderem à iniciativa. Entre os seis mil portugueses que integram a campanha internacional de solidariedade, a falta mais notória é a de um conhecido adepto das corridas matinais à beira-mar e das maratonas nas travessias do Tejo. A ausência tem explicação: foi a Trancoso com um dos seus doze motoristas receber a medalha de ouro da cidade, atribuída pela autarquia social-democrata por ficar com uma autoestrada à porta. Não sei se Trancoso fica com uma autoestrada para ver passar alguns carros ao largo, nem sei se teve, tem ou vai deixar de ter centro de saúde, maternidade, postos da PSP e da GNR, estação de correios, tribunal e uma escola com menos de vinte alunos, mas sei reconhecer os sinais dos tempos. Uns correm para recolher fundos pelos que têm fome, outros correm para recolher medalhas por obras que vão empurrando o país para a fome.» João Carvalho, DdO
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