O CADÁVER-CADÁVER
Cavaco desagrada-me, por ser fraco e tacitamente aquiescente com o cadáver-cadáver político Sócrates, esse petulante ilusionista perigoso. Mas o ataque que estas bestas documentais lhe dirigem por sistema, e agora a bordo de Saramago, no seu trânsito, enoja até à quinta casa. Trabalham para Sócrates e por Sócrates. Não há coisa mais feia, mais imoral e mais dejecto que o trabalho de indivíduos-pocilga, ocultos e bem preservados, enquanto se cevam do erário público com mentiras e desonestidades de todo o tipo. Se Cavaco é para eles um alvo a abater, tenho de estar com Cavaco. Se Cavaco é atacado por um socialista-corporativista à vez: agora Vieira da Silva, amanhã Vitalino ou Ricardo Rodrigues, mais tarde Alegre, tenho de tapar os olhos, à maneira de Cunhal, e defender Cavaco. Todo o esforço é pequeno contra o projecto maçónico-socialista estrangulatório da verdade e dos factos, projecto bem evidente no modo nojento como se opuseram ao relatório da CPI na questão PT/TVI. O trabalho provocatório da literatura, na sua beleza e no seu imenso poder, pode bem com Sousa Lara e com todo o passado nacional de mesquinhez preconceituosa contra os nossos escritores: tenham a mundividência que tiverem, manufacturaram sobretudo Arte, tocante e reconhecível em qualquer ponto do planeta, e essa Arte não é de esquerda nem de direita. O trabalho provocatório da literatura não pode é com cabrões anónimos, escória de Portugal, constantemente a desenterrar documentalismos defuntos para salvar o seu cadáver-cadáver Sócrates e ainda por cima à boleia de um ilustre morto, Saramago, ainda quente na sua mortalha.
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