NOVAS OBSCENIDADES
Torna-se cristalino que a eficácia mediática pode transformar-se em desgaste mediático se a bota não bate com a perdigota, isto é, se o que o que vivemos e sentimos não bate com os anúncios e feitos de que se ufanam os socialistas. Facto é que a realidade desmente a fantasia atrevida daqueles ao ponto de transformarem em obscenidade o discurso desenraizado que praticam. Caberá ao presidente do PSD, Passos Coelho, explicitar, esta noite, por A mais B em que medida o primeiro-ministro demissionário, José Sócrates, se transformou num bloqueio à democracia portuguesa, num foco de imoderação, atrevimento e malícia procedimentais no exercício autista do Poder, num factor de distorção e ruído no sistema, para além de responsável pela «maior tragédia de que há memória em Portugal». É muito fácil. É necessário que somente os mais brutos e obscurecidos dos eleitores, passionais e primários, votem imbecilmente na tragédia ambulante e politicamente obscena que dá pelo nome enganoso de Sócrates.
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Se ele insistir nos pedidos de explicações de questões laterais e secundárias pela sua parte, não vá na conversa e pesque-o de imediato para o terreno da má governação e das situações obscuras . Pode dizer-lhe que quem tem que dar explicações a todos nós é o Sócrates da bancarrota, e que se não perde tempo com os gravadores do Ricardo, muito menos com os pelinhos de Catroga. Puxe-o sempre para a obra que ele deixa e confronte-o com documentos divulgados, apenas com alguns sublinhados seus. Deve mesmo ir preparado para lhe oferecer o relatório do Banco de Portugal com o aparte de que não está em inglês e que assim ele não terá dificuldade em ler. Levar também a tradução da troika, e se ele não garantir que ela já existe oficialmente oferecer-lha também para lhe refrescar a memória. Pode mesmo questionar se ele próprio já leu o programa PS, e carregá-lo com um exemplar para auto verificação dado que bem espremido não esclarece nada e talvez tenham apenas divulgado propaganda introdutória. Na ladainha das culpas do chumbo do PEC bastam os seus sublinhados e a oferta do relatório do Banco de Portugal. Noutros engodos como a destruição do Estado Social é só confrontá-lo com os pacotes demolidores que ele pela socapa já levou á prática como empreitada clandestina. O Dr . Passos tem tudo para lhe dar uma grande tareia podendo mesmo lembrar-lhe a distorcida veia democrática que revelou com o empresário que lhe fez uma pergunta incómoda, recordando ao nosso Engenheiro que autoridade e crédito ou falta dela não compromete um cidadão vulgar perante o País. Mas ao candidato e ainda 1º ministro sim, e que é obrigado a dar explicações a si e aos Portugueses.
Para concluir, uma breve nota de rodapé: Se o matreiro Sócrates pretender incomodá-lo com a multa da sua empresa é só dizer-lhe bem sublinhado, que se ele alguma vez trabalhou deve saber que há imponderáveis e incidentes que podem por em causa um perseguido bom desempenho e que a penalização correspondente está paga. Falta agora que ele próprio pague os estragos que deliberadamente causou a todos nós.
2. Ao contrário dos “taxistas” que abundam pelo nosso país, não considero – aliás, não concebo, sequer – que alguém se perfile para PM para “se governar” ou “governar os amigos”. Ganha-se “de menos” para as chatices que dá, é uma trabalheira do caraças, a vida privada é escarafunchada até à quinta casa, eu sei lá;
2.1. Eu acredito, e quero continuar a acreditar, que José Sócrates – e todos os seus antecessores, incluindo Marcelo de Caetano e Salazar – acredita mesmo que as suas decisões são as melhores para o país. Aceito e compreendo que, algumas vezes, se feche os olhos a algo menos transparente de molde a obter benefícios para o país a médio prazo (e aviso já que sou apologista da legalização dos lobbies, à lá EUA);
2.2. Posto isto, custa-me aceitar a demagogia, as mentiras, as ocultações, as descontextualizações. Eu acredito (quero acreditar) que os políticos que lançam mão dessas estratégias o fazem para cumprir o seu objectivo fundamental, que é beneficiar o país. Esse objectivo só pode ser cumprido ganhando as eleições (para quem pode) ou elevando o seu peso político, daí o recurso a essas armas;
3. A estratégia do PSD, para o panorama político nacional actual, é suicida. Apresentam o programa mais detalhado, de longe, e sem esconder a mão. Contém pontos que eles sabiam que iam ser atacados, distorcidos e “demagogizados”. Foram. Estão a ser. No entanto, e tendo em consideração os pontos anteriores, eu prefiro. Acho que é uma autêntica lufada de ar fresco na nossa política, só visto nalguns dos minúsculos partidos sem assento parlamentar.
3.1. Ainda sobre a minha relação com o PSD (que não tenho relação nenhuma, embora tenha sido convidado, há muitos anos, a filiar-me na JSD, durante algumas aventuras no associativismo estudantil – coisa que não fiz): desde que me lembro de ter consciência política, que sou liberal. Todas (todas as 3, para aí) as eleições até meados de 2000 foram autênticos no-brainer para mim;
3.2. Quando Santana caiu, achei que tinha sido depressa demais, sem hipótese de demonstrar alguma coisa; voltei, portanto, a votar PSD, neste caso, Santana. Perdeu, paciência. Em 2009, considerei que Sócrates, afinal, tinha saído mais liberal do que a encomenda, e por oposição a um partido que virtualmente não tinha programa, sob a capa da “Verdade”, votei Sócrates. Apesar de já intuir que algo não ia bem por ali, e aquela subida dos funcionários públicos cheirar mal como tudo. Confirmou-se;
3.3. Em 2011, o PSD volta a ter programa, como já disse atrás, o mais detalhado destas eleições. Liberal. Qual é a dúvida?
4. Para concluir, Portugal deve ser dos piores países do mundo ao nível da diabolização dos binómios esquerda-direita e libertário-populista. É quase impossível alguém discutir sem acusações, mentiras descaradas, demagogia e outras coisas coloridas com alguém do outro lado de um destes binómios.