HIATOS NA VENTILAÇÃO PACHEQUIANA

«O martelo-pilão do Dr. Pacheco é apenas um chorrilho de lamentações e uma ventilação do seu estado de alma. Para um ‘historiador/sociólogo/politólogo’, tão lúcido como ele é, espanta. Aponta verdades e a lógica é – de um modo geral – escorreita; mas dá-se ao luxo de omitir ou de ignorar algumas coisas (também se pode tratar de desconhecimento puro). Chega ao ponto de recuar ao tempo de “Sr. Presidente do Conselho Prof. Salazar” – evocando a magreza de recursos e a modéstia dos tempos de então. Ele teme de facto isso: ou seja, que tenhamos MESMO de viver ao nível das nossas posses e recursos. É a insatisfação infantil (teimosa, caprichosa) de alguém que perante a relidade insiste em a negar. Pacheco tem de entender, de uma vez por todas, que Portugal está tristemente ao nível da Bulgária, da Roménia, da Macedónia e de países similares. Os mesmos países que não têm NADA de particular que os mercados, os outros países, as outras economias necessitem – que só eles possam produzir e comercializar: não temos minérios em quantidade suficiente, não temos petróleo, não temos gás explorável, não temos borracha, madeira de boa qualidade, não temos trigo, milho, cevada, centeio, não temos vegetais, arroz e legumes suficientes para abastecer as nossas necessidades; sobretudo, não temos indústrias pesadas rentáveis, não temos tecnologia de ponta em franca expansão, não temos investigação que dê frutos no mercado internacional, não temos ‘prémios Nobel’ naquilo que interessa (as ciências); a lista é aterradora e quase infindável. Somos apenas dotados de boas praias e de algumas boas mesas. Não chega. Deixemos de lado o Dr. Salazar (faleceu em 1970 e foi exonerado por Tomás em 1968…): o que fizeram os revolucionários depois da revolução de 74? Aumentar os salários brutalmente, ao mesmo tempo que as receitas desapareciam. O que aconteceu com a independência das colónias? Perda de investimento estrangeiro e de algum comércio ainda vantajoso com o Ultramar. O que resultou das nacionalizações e da marxização do País? Fuga de capitais e entrada num circo grotesco e longo de guerras ideológicas que protelaram a normalização da sociedade portuguesa. O que fizeram TODOS os governos constitucionais desde 76 para cá? Perderam - quando ainda podiam influenciar dentro da Lei essas questões - todas as hipóteses de transferências de tecnologia e de implantação de indústrias estratégicas, modernas e de ponta que nos colocassem a caminho de progresso real e de parcerias internacionais: defesa, comunicações, materiais de alta tecnologia, etc (outras nações não perderam esse comboio, mesmo com processos penosos de democratização e de ‘descomunização’). Ou seja: valemos o que valemos; e para vivermos ao nível confortável que o Dr. Pacheco tanto almeja, só tendo alguém que nos sustente incondicional e eternamente. Ora ‘isso’ já não existe. O rítmo mais ou menos acelerado ou brutal do ajustamento é pouco importante; o que é importante é saber se vamos poder crescer, inovar, produzir, criar riqueza (verdadeira) num futuro próximo. Sem isso toda a conversa é estéril. Pacheco – e todos os outros – não sabem como resolver este problema, e clamar por um rítmo mais suave sem se saber se ele é possível ou benéfico não adianta. E a questão não está em saber “se merecemos” isto ou aquilo, se queremos viver melhor ou pior, se somos simpáticos e ‘fixes’ ou não; está em saber se temos dinheiro honesto, nosso, suado. O “merecimento” não para aqui chamado. Tudo isto, literatura à parte.» Besta Imunda

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