IMPRESSÕES BRASILEIRAS III

Cheguei há pouco do Brasil. O modo de ser e estar brasileiros, variando muito pouco no essencial de estado para estado e de região para região, tem uma nota comum e universal: o afecto, a capacidade de abraço e de estar fraternalmente com os demais, um fino sentido do prazer de viver e deixar viver. As empatias e as simpatias ali são para o que der e vier. Por isso, a vida emocional, social, familiar, é fora do comum, muito mais intensa e vivaz, pelo menos para os padrões europeus que me têm sido dados observar. Na região pernambucana onde estive pela segunda vez, a onomástica familiar portuguesa domina e predomina, capturando o imaginário dos seus detentores: Melo, Araújo, Calheiros, Godinho, Granja, quase todos à procura de uma árvore genealógica credível, onde se compreenda quem terá sido o português fundador da família, até ao presente, mais pé menos pé na senzala. Longos debates se geram à conta dessa busca empírica das raízes, repleta de hiatos e rumores fantasiosos. Sob um sol sempre viril, avulta a enorme fecundidade das pessoas e da natureza: a sexualidade, omnipresente, tornou-se cultura igualmente ubíqua, penetrando todas as faixas etárias, num mesmo centro de gravidade, graduada em função da idade, mas formando e deformando tudo e todos, especialmente o género feminino segundo os imperativos, inclusivos ou exclusivos, do belo e do sexy. Estímulos fortíssimos estão por todo o lado. A sociedade permanece machista e patriarcal, mas é a mulher o pólo agregador de todas as energias e de todos os olhares, rompendo convenções e desfilando altivas, repletas da beleza mais encantadora e da sensualidade mais espontânea. Em qualquer avenida. Em qualquer rua.

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